Douradas à Deriva




Texto: Pedro Neves

Fotos: Autor e Arquivo

A pesca à deriva há muito tempo que é praticada na vertente do “jigging”, vinil, isca viva, corrico entre outras, e se os resultados são impressionantes, nas douradas não é diferente.

São cada vez mais os aficionados deste tipo de pesca e os exemplares de porte são cada vez mais frequentes. Mas afinal o que é isso de pesca “à rola”, à deriva, às douradas?

Esta arte consiste em posicionar a sua embarcação em cima do cardume e tentar manter-se por lá tanto tempo quanto possível. É um facto que estes cardumes estão em constante deslocação e como tal as embarcações também, aqui não se pesca no vazio, ou têm peixe debaixo de si ou terá que procurar até encontrar.

Neste tipo de pesca existem vários factores que o poderão levar a ter mais ou menos sucesso. Se por um lado a perícia dos pescadores fará toda a diferença por outro, homem do leme tem também um papel importante, entre outros factores tais como as condições atmosféricas, os equipamentos, as montagens etc. Vamos tentar então minorar os prejuízos (numa pesca que de simples não tem nada) com algumas dicas que o poderão ajudar. Não se esqueça: esta pesca não era tão emocionante se fosse fácil!

Condições atmosféricas

Analise sempre as condições atmosféricas e relacione-as com os locais onde quer ir pescar. Encontre o peixe e, antes de começar a pescar, considere sempre a direcção do vento e corrente, sendo que normalmente quem manda é o vento. Nada como desligar a sua embarcação e a deixar derivar para que saiba para onde esta se dirige (sem influência do motor). Esta operação leva alguns segundos ou até minutos a descobrir. Agora que já sabe para onde está ser empurrado, já se consegue posicionar no sítio que pretende para que passe por cima do peixe ou manter-se em cima deste.

Outra questão que é muita vez debatida é dar a proa ou a popa ao vento. As variações são grandes, cada caso é um caso e cada embarcação reage de forma diferente ao vento, ou seja todos são empurrados na mesma direcção, contudo nem todas têm a mesma reacção de proa ou de popa e nem todas se deslocam à mesma velocidade; uma embarcação semi rígida não deriva da mesma maneira que uma embarcação cabinada. Neste caso o melhor é conhecer-se a si, a sua adaptação e a embarcação em causa. Quanto mais baixa for embarcação ou menor for o seu atrito ao vento mais fácil vai ser gerir este pequeno problema.

O seu objectivo é manter a embarcação sempre na mesma posição, sossegada e a passar ou a manter-se em cima do pesqueiro. Na ausência de vento este problema não existe (nada como praticar). O excesso de vento e de corrente não o vão ajudar em nada, e pescar à deriva não significa pescar com o motor desligado contudo não vale tudo. Se um destes excessos o obrigar a demasiada rotação do motor o melhor é “ desistir “ e fundear. A falta de controlo na embarcação vai criar vários aborrecimentos a si e a quem o acompanha: enleios entre pescadores, enleios em hélices, descoordenação e até desorientação de pesca. Contudo a pesca não estará de todo perdida, pode sempre optar por uma pesca fundeada que também tem resultados tão bons e por vezes melhores até. Leve sempre consigo equipamentos de pesca fundeada, são muito diferentes dos da deriva, não vá ter mudar de estratégia.











Os equipamentos, materiais e a deriva

Os fabricantes já começaram há algum tempo a desenvolver equipamentos adequados ou adaptados a esta pesca que por sua vez se conjugam com outras do mesmo género.

Sendo a pesca às douradas uma pesca menos fácil e tendo em conta que o género de cana que era procurada numa pesca de fundo, com dimensões de pouco mais ou menos de 4 metros, com acção de ponteira e sensível (sem excesso), para esta pesca procura-se dois tipos de canas contudo ambas com dimensões iguais ou parecidas.

Para uns, canas mais rijas e sensíveis com dimensões compreendidas entre o 2,00 e os 2,50 metros e acções até 80 gramas. Este tipo de equipamentos é mais adequado àqueles que sentem o toque do peixe na linha (no dedo) e não na ponteira, a vantagem que lhes traz será uma velocidade de ferragem muito superior a outras. Para outros, canas com as mesmas dimensões mas com acções um pouco mais baixas o que lhes permitirá visualizar o subtil toque na ponteira mas que não ajudará na ferragem, se for mesmo um apaixonado por elas, certamente vai ter as mais diversas opções junto de si.

Relativamente a carretos, quanto mais leve mais pequeno e quanto mais pequeno menos bobina. Não se esqueça que as “meninas da bandelete amarela” chegam a andar em profundidades de 90 metros, o que com um equipamento demasiado pequeno aumenta a probabilidade de insucesso. Os equipamentos mais adequados continuam a ser os modelos médios de pesca embarcada cujos códigos numéricos variam de marca para marca e com pesos que não excedam os 500 gramas. Caso não saiba o que adquirir nada como aconselhar-se no seu revendedor habitual.

No caso dos fios ou linhas, anzóis e lastro quer queira quer não, o que é bom tem resultados fantásticos. A maioria dos pescadores desta arte usa fios multifilares coloridos nos carretos com medidas compreendidas entre os 0,16 e os 0,22, (estas linhas vão ajudá-lo a encontrar o peixe na respetiva profundidade) e fios fluorocarbono 100% com dimensões compreendidas entre os 0,35 e o 0,45mm, este último para efeito de chicote, que neste caso será o estralho que poderá ter comprimentos entre os 4 e os 10 metros em função da maior ou menor actividade que vai encontrar. Nos anzóis contrariamente ao que se tem passado nos estuários, são utilizados tamanhos que começam no 2/0 e poderão chegar nos mais astutos pescadores aos 7/0, as numerações não estão uniformizadas havendo grandes diferenças de fabricante para fabricante. Neste caso específico e quando falamos um pouco de lastro (chumbo), apesar de se conseguir pescar à chumbadinha com chumbadas de argola as mais simples de utilizar serão as furadas no seu interior: a olivete, a bola e o torpedo. As gramagens que lhe promovem maior sucesso serão entre os 30 e os 60 gramas.

Montagens

Considerámos simpático apresentar-lhe algumas montagens provavelmente já conhecidas da maioria dos pescadores.

Aconselhamos sempre o multifilar colorido pois para este tipo de pesca é mais versátil do que qualquer outro, e assim não terá que carregar consigo bobines adicionais caso queira passar de repente de uma pesca de fundo para uma pesca à chumbadinha. O chicote que é instalado em qualquer das seguintes montagens tem como principal finalidade amortecer a nula elasticidade das linhas entrançadas (multifilares). A ausência dele só o levará a perder muitos peixes. Pode ser em nylon ou em fluorocarbono as suas espessuras devem variar entre os 0,35 e 0,50mm e comprimentos entre os 4 e os 10 metros No caso da montagem tradicional de fundo não vemos qualquer vantagem no uso de fluorocarbono visto que também é uma linha de elasticidade reduzida o que já não acontece no caso da pesca à chumbadinha devido ao seu formato.

Mas afinal: chicotes maiores ou mais pequenos, mais grossos ou menos grossos? A resposta é: “não sei” … só descobrimos isso no local. Com certeza que já vos aconteceu ver os seus parceiros do lado apanharem peixe e você nada! Isto pode acontecer por vários motivos: chicote demasiado comprido que lhe tira sensibilidade, chicote demasiado grosso que não deixa o isco trabalhar de forma natural, estralhos demasiado compridos ou curtos, grossos ou finos, chumbadas demasiado leves ou pesadas. As variações são grandes e como tal deve tentar não desanimar.


Para fazer uma pesca boa às douradas só precisa de 30 minutos… tem o dia todo para montar e desmontar.


Montagem do desespero

Esta é a montagem tradicional de pesca de fundo às douradas. Para um pescador de chumbadinha, pescar ao fundo só quando está desesperado. Ou não há aguagem ou temos excesso dela, ou temos pouco vento e a embarcação não para sossegada (chumbadinha fundeado) ou estamos com excesso de vento e na chumbadinha à deriva estamos com o motor em “red line”. Provavelmente se quiser apanhar uns peixes a única forma é pescar com este tipo de montagem. Nesta montagem devemos pescar o mais vertical possível, nem que para isso tenha que usar chumbos com mais de 200 gramas.

Chumbadinha tradicional

A figura dois representa o modelo mais usual no formato chumbadinha, este formato é extraordinariamente simples de montar e não carece de grandes explicações, há quem use mais um batente logo antes do empate do anzol ou um destorcedor e estralho logo depois da chumbada e pouco mais. Desde que considere sempre a introdução do ponto (Montagens).

Chumbadinha com estralho de correr

Esta pequena alteração ao formato habitual já foi testada e obteve resultados muito interessantes. Contudo só é eficaz numa pesca vertical de chumbadinha seja esta à deriva ou fundeado nos dias em que a ausência de aguagem é acentuada. Não produz efeitos nos dias em que o peixe esta mais disperso visto o batente não permitir que a chumbada corra sobre o chicote. Esta montagem à chumbadinha com anzol de correr permite que um dos estralhos desça rapidamente e outro se distancie na queda, obriga a um encurtamento do chicote. Pode ser adaptada com anti-tangle e de um segundo batente ou stopper. É utilizada em águas paradas e com fraca ondulação em dias de peixes quase impossíveis.

Caranguejo e as outras iscas

Existe duas mãos cheias de formas de iscar e nem sempre elas querem comer da mesma forma, atrevemo-nos a dizer que um dia é de uma forma e vinte e quatro horas depois virou-se tudo do avesso. A utilização de iscos para além do habitual caranguejo pode trazer-lhe dissabores a si e a quem o acompanha. A utilização de outros iscos quando pesca às douradas poderá trazer para o seu pesqueiro peixes de pequeno porte, mais ágeis e menos espertos que não vão deixá-las comer. O caranguejo rijo é efectivamente o isco de eleição não só por motivos financeiros mas também pelas suas características e dieta das douradas.

Este pode ser iscado às metades, aos quartos, inteiro com 2 anzóis em tandem, inteiro com um anzol, com patinhas, sem patinhas. Aqui a sua imaginação é que manda, nada como experimentar das mais diversas formas até começar a sentir toques ou começar a vir com anzóis sem isco (desiscado). Nem sempre o toque da dourada é um toque franco, na verdade na pesca embarcada são mais os dias em que elas comem com “pauzinhos chineses” do que os que comem com violência. Esta última acontece quando o fundo está porventura repleto delas e há competição pela comida, nos outros a sua atenção e perícia é que mandam (quando pescar às douradas não beba).

A pesca e a deriva

Use e abuse da tecnologia, reconheça o peixe na sonda e a sua profundidade, não se esqueça que dispõe de um multifilar colorido, concentre-se. Quem lhe disse que era fácil mentiu-lhe. Caso nunca tenha pescado às douradas, comece pela pesca fundeada, os resultados são mais visíveis a curto prazo e dispõe de inúmeras embarcações MT que estarão de braços abertos para o receber e ajudar.

DESTAQUES

Os cardumes estão em constante deslocação e como tal as embarcações também, aqui não se pesca no vazio, ou têm peixe debaixo de si ou terá que procurar até encontrar

Os fabricantes já começaram há algum tempo a desenvolver equipamentos adequados ou adaptados a esta pesca que por sua vez se conjugam com outras do mesmo género

Aconselhamos sempre o multifilar colorido pois para este tipo de pesca é mais versátil do que qualquer outro, e assim não terá que carregar consigo bobines adicionais

  • Com alguma habilidade e um bom mestre ao leme é possível tirar peixes deste calibre.
  • Se no “jigging” e aos pargos com sardinha funciona porque não havia de funcionar às douradas?
  • Hoje em dia há muitas opções de escolha no que diz respeito às canas. O gosto, necessidades e bolsa é que ditam a escolha. Já para não falar das modas…
  • Quer se queira quer não, a escolha de bom material tem alguma influência na pesca às douradas, sobretudo nas linhas e anzóis.
  • No decorrer da pesca há que procurar o tipo de iscada de caranguejo que as douradas preferem. Os seus humores por vezes variam muito na mesma pesca.
  • E não se esqueça… uma boa pesca de douradas “à rola”pode fazer-se em 30 minutos.
  • O uso de multifilares coloridos são uma preciosa ajuda nesta técnica.









Este artigo tem o apoio de PINHALPESCA

One Reply to “Douradas à Deriva”

  1. Muito bom artigo, aliás, atrevo-me a dizer que nunca vi nada escrito tão bem estruturado e exemplificado. Um autêntico versículo da Bíblia da pesca embarcada. Amém !

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