Uma alternativa… (muito) selectiva!
Texto: Sérgio Cabecinha
Fotos: Autor e ArquivoSe pensa que só as iscas de sangue como a sardinha e a cavala funcionam na pesca aos pargos engana-se, sobretudo se no pesqueiro estiver em força o peixe-miúdo, sempre a investir e a destruir-nos as iscadas por completo.
Então o que fazer? Pois bem, parece que o caranguejo é uma das soluções que resolvem este problema, como Sérgio Cabecinha nos explica…
O porquê?
Como é do conhecimento de todos quando direccionamos uma pesca aos pargos, usamos normalmente iscos como sardinha, cavala, choco, polvo ou lula.
Como os pargos são predadores extremamente vorazes, têm uma ementa alargada, que se estende a crustáceos, moluscos, entre outros.
Neste caso particular, o uso do caranguejo na pesca aos pargos faz todo o sentido, não apenas por ser uma guloseima para eles, mas também por ser um isco de combate extremamente resistente… pois certamente já aconteceu a muita gente tentar pescar um exemplar maior e o peixe pequeno estar constantemente a desiscar tudo. Logo, faz sentido nestes dias usarmos algo alternativo que a “pequenada” não consiga comer e que seja ementa destes predadores.
Atrevo-me mesmo a dizer que em certos dias será a melhor aposta a fazer, não descurando sempre que a sardinha faz pesqueiro, a cavala também; mas será sempre uma boa aposta nos dias mais difíceis tentar o caranguejo visto que se tiver ataques irá ser certamente de peixe de bom lote.
Se no inverno apanhávamos alguns pargos enquanto pescávamos às douradas é natural que na primavera e restante parte do ano se apanhem pargos também com este isco
Mas que caranguejo?
A resposta mais simples é: os das douradas. O caranguejo verde do rio continua a dar cartas, mas desta vez fora do período invernal, sejam os machos ou as fêmeas. Importante nesta situação é que sejam grandes para seleccionar o peixe.
Também o caranguejo duro desempenha bem a função; são aqueles que parecem blindados e que têm vários pelos nas patas. Importante para desempenharem bem a sua função é a dureza que os caracteriza e aguentarem vivos durante um período relativamente razoável.
Mouras são macias demais e caranguejo de dois cascos desaconselha-se dado sobretudo o seu preço.
Forma de iscar
Quanto à maneira de iscar, sou da opinião que devemos tentar não matar o caranguejo e pescar com ele inteiro pois pescar com ele partido já não terá lógica visto o objectivo ser fugir ao peixe pequeno. O que daí resulta é um caranguejo todo chupado e trincado por dentro… e pargos nada.
Com efeito, convém referir que na minha opinião – é uma pesca para ser feita com engodo pois se existir corrente não muito forte permite por vezes engordar perto da superfície levando o engodo na esperança de atrair exemplares maiores, fazendo “cabeça”. Gosto de engordar com sardinha cavala e claro, caranguejo.
Nunca descurando que a sardinha faz um excelente pesqueiro mas, em certos dias, torna-se complicado por causa de ataques sofridos antes de a iscada chegar ao fundo, por se tratar de uma isca menos resistente, mesmo quando até iscamos com sardinha inteira. Se houver muito carapau e cavala grande e sarrajões estamos condenados…
OS BÓNUS…
Esta inversão de tendência, de usar caranguejo para os pargos tem outras vantagens. A pescar em alguns pesqueiros aos pargos é possível apanhar durante o resto do ano outras espécies que aderem particularmente bem ao caranguejo, caso das douradas – fora do período de desova -, de grandes sargos legítimos, das saimas (ou sargo veado) e dos lindíssimos pargos sêmea, um pargo que não é muito habitualmente pescado e que tem no caranguejo o seu alimento de eleição.
Inverter as coisas…
Começámos a utilizar caranguejo por ser um excelente isco muito resistente e fácil de arranjar, e como na altura das douradas sempre se apanharam grandes pargos com caranguejo já sabíamos que o peixe iria gostar, era apenas uma questão de experimentar e acreditar noutro contexto, noutra altura do ano. Ao fim ao cabo foi inverter as coisas: se no inverno apanhávamos alguns pargos enquanto pescávamos às douradas é natural que na primavera e restante parte do ano se apanhem pargos também com este isco. Os resultados até ver têm sido muito positivos com o peixe a colaborar; têm saído excelentes exemplares de pargos legítimos para alegria de quem faz esta pesca de grandes emoções.
Resta apenas desejar boa sorte e boas proas.
Vila Nova Mil Fontes
Cabo Sardão