Jigging vertical
Texto: Hugo Modesto
Fotos: AutorCom a chegada da primavera as águas aquecem, tornam-se mais límpidas e apetecíveis para os pargos se aproximarem e é tempo de pescar ao jigging. Esta é sem dúvida uma das minhas técnicas de eleição.
Nos últimos anos muitas jornadas lhe tenho dedicado, umas com mais peixe que outras, mas ao final do dia, mesmo que não tenha sido um dia brilhante de capturas, tenho a satisfação de ter mais algum conhecimento fruto da insistência, da teimosia e do sacrifício físico que esta técnica exige.
Perguntavam-me no outro dia qual era o segredo do jigging. Se era na animação, se na cor ou na forma do jig. De pronto respondi o que para mim é o segredo… é essencialmente acreditar!
Temos que acreditar!
Quantos de nós, depois de nos apercebermos que existe naquele pesqueiro alguns pargos porque nos partiram a montagem da pesca ao fundo ou por aquela cavala que no trajecto do fundo até a nossa mão sofre um ataque, tiramos do saco uma zagaia e durante alguns (poucos) minutos a animamos com grande esperança mas que rapidamente volta para o saco, e continuamos com isca no “pica-pica”. Falo por mim, muitas vezes isto me aconteceu, e só quando pela “mão” de um amigo, depois de o ver capturar “aquele” pargo que tantas vezes sonhei, finalmente vi que afinal não fazia nada de mal e que o que faltava era só “acreditar”.
Tempo de pargos
Chegando a esta altura do ano, os pargos aproximam-se mais de terra e não só; concentram-se nos locais do costume, especialmente os pargos que chamo de arribação (capatões e as velhas), particularmente os exemplares adultos que se concentram para se reproduzir nesta época. Enquanto que os pargos-legítimos (Pagrus pagrus) e os pargos dourados (Dentex dentex) estão presentes todo o ano nas águas mais a sul, só variando a profundidade em que os podemos encontrar conforme as condições preferidas destas espécies.
É também frequente encontrarmo-los juntos a dividirem o mesmo local, normalmente em concentrações de capatões que a eles se juntam alguns exemplares de outras espécies. Costumo dizer que peixe grande atrai peixe grande, mesmo que de espécies diferentes.
Começo por aqueles que deixam mais saudades e que a sua presença coincide com dias quentes e mar normalmente calmo.
O pargo-legítimo (Pagrus Pagrus) é sem dúvida a espécie mais comum não só pelo número de exemplares mas também pela sua presença na nossa costa todo o ano
Os míticos capatões
Os capatões, mitras ou bandeireiros são os Dentex gibbosus, bandeireiros quando são juvenis porque a terceira espinha dorsal apresenta-se muito maior que as restantes, parecendo uma bandeira. São peixes que podem atingir os 20 quilogramas de peso (as fêmeas) ficando os machos por pesos mais modestos.
Por outro lado os machos adquirem uma forma muito curiosa, na parte frontal da cabeça acima dos olhos, ficam com um alto como se trata-se de um “galo”, fruto de uma cabeçada, uma bossa a que se chama “mitra” e que lhe dá nome.
São peixes que “vendem” caro a sua pele especialmente junto ao fundo. É normal que se desferrem nos primeiros metros virtude do vigoroso abanar de cabeça e fortes corridas junto ao fundo.
Normalmente encontram-se nas beiradas das pedras ou em zonas de pedra plana e onde existam gorgonias e alguns ramos de coral.
Formam grandes cardumes onde é frequente encontrar indivíduos de vários tamanhos.
Os mais juvenis são normalmente as primeiras capturas; não devemos por isso reduzir a tensão do drag ou aligeirar os baixos a pensar que naquele cardume só existem peixes mais pequenos, pondo em causa futuras ferradas a que se pede mais poder de drag para a penetração dos anzóis se realizar e reter as primeiras investidas que são de alguma violência. Aos capatões pesco essencialmente com jigs, se notar que existe alguma actividade, animo-os com alguma energia e movimentos mais bruscos, se por outro lado a sonda me mostrar que “as coisas” estão calmas o recurso a inchikus será uma escolha acertada sempre com animações minimalistas e nos metros mais junto ao fundo. Ultimamente o slow jigging, a “técnica da moda”, tem-se mostrado uma boa solução, aumentando em muito o prazer das capturas por o material ser tão leve.
Chegando a esta altura do ano, os pargos aproximam-se mais de terra e não só; concentram se nos locais do costume,
especialmente os pargos que chamo de arribação
Os “velhas”
Os pargos velhas (Dentex canariensis), como são conhecidos no Algarve, são peixes que normalmente não passam dos 4kg e distinguem-se particularmente por uma mancha rosa escuro no final da espinha dorsal. Na barbatana caudal também se notam bonitos tons de azul e violeta.
Preferem as zonas circundantes das pedras, gostam de caçar na areia e no cascalho e formam pequenos cardumes de quatro a oito exemplares.
Elegem as profundidades compreendidas entre os 20 e os 50 metros, chegando mesmo a ser vistos em zonas com uma dezena de metros. Apesar de normalmente não atingirem dimensões tão grandes como os seus “primos” é caso para dizer “não lhe olhem ao tamanho”; em combate fazem-nos muitas vezes pensar que de maiores exemplares se trata, lutando sempre com a mesma energia desde o princípio até ao fim. Tenho um carinho especial por esta espécie virtude de ter sido a minha primeira captura na técnica de jigging e por isso sempre que chega a altura dedico algumas saídas especialmente a “eles”.
Para eles não tenho um artificial de eleição, seja com jigs ou inchikus, o cuidado que tenho é sempre reduzir o tamanho e o peso para que se tornem mais atractivos e sempre não ter o “complexo” que na areia não se capturam pargos.
Dourados os cobiçados
Dentex Dentex é o nome científico do pargo-dourado, para mim o mais desconfiado de todos. Fisicamente pode ser distinguido pela sua coloração, com pontos azuis ao longo do corpo e pela parte anterior da cabeça perto do opérculo em tons de amarelo dourado.
Lembro-me da primeira vez que os vi enquanto fazia caça submarina e do seu comportamento inconfundível, sempre muito nervosos e desconfiados com um ar agressivo deixando ver os seus grandes dentes caninos.
Senhores dos grandes maciços rochosos situados entre os 20 e os 70 metros, patrulham a parte mais alta das pedras, local onde normalmente se encontram os grandes cardumes de peixes “pasto”. Nesta espécie, diz-me a experiência, que a espessura da linha faz diferença, especialmente se tentarmos a nossa sorte em zonas de baixa profundidade.
Como factor de dificuldade, esta é a espécie que mais tem tendência a procurar a pedra para tentar libertar-se dos anzóis, muitas vezes o que acontece é que por termos uma linha mais fina (0,37mm) deixamos a embraiagem mais folgada e lá vão eles à pedra… por outro se travarmos de mais a embraiagem a linha é mais fina e partem nas primeiras corridas.
Depois de ferrados proporcionanos momentos inesquecíveis, tentam nunca perder o fundo de vista pois é ai que muitas vezes encontram solução para o seu problema. Pesco-os essencialmente com inchikus.
Se tenho como alvo esta espécie, acontece também como referi estar a pescar com jigs aos capatões e ferrar um dourado, especialmente quando existe frenesim alimentar. Em geral animo os inchikus junto ao fundo com grandes elevações de cana alternando com duas a três voltas de manivela rápidas, o nosso artificial deve vir até metade da profundidade a que estamos a
pescar para depois voltar a cair para o fundo, isto porque estes não têm nenhum problema de andar a passear bem alto do fundo.
Os juvenis de capatão chamam se bandeireiros e apresentam um prolongamento da terceira espinha dorsal que se apresenta muito maior que as restantes.
Não se iluda e descuide depois de
apanhar um capatão pequeno; a seguir
pode vir um maior por isso não facilite.
O legítimo
O pargo-legítimo (Pagrus pagrus) é sem dúvida a espécie mais comum não só pelo número de exemplares mas também pela sua presença na nossa costa todo o ano. Peixe de caninos menos afiados que as restantes espécies demonstra assim a sua versatilidade na hora de comer, procurando também crustáceos e pequenos moluscos junto ao fundo, necessitando assim de dentes mais arredondados.
Outra característica que facilmente o distingue a nível físico é as pontas da sua barbatana caudal de cor branca. Já os capturei em fundos que variam entre os 20 e os 120 metros, mantendo o seu comportamento “guerreiro” em toda a coluna de água.
Não notamos que pelo facto de ser um peixe de fundo perca o “norte” por se estar a deslocar para a superfície. É normalmente em pleno inverno (dezembro a fevereiro) que me dedico especialmente a esta espécie na vertente do jigging, sempre em profundidades que rondam os 90 metros.
É nesta cota que se demonstram mais agressivos para atacar os artificiais, estando nesta época – em pré-desova – a atacar não só para se alimentarem mas também para defenderem o seu território.
Uso maioritariamente artificiais que sejam de cores garridas e que sejam ao mesmo tempo fosforescente, sejam eles jigs ou inchikus. As animações devem ser o mais junto ao fundo possível, em “dentes de serra” será uma boa solução. O slow jigging também se mostra uma excelente solução para esta espécie e o uso de quatro anzóis assistidos pode ser – e é -determinante no número de capturas. Não se esqueçam que muitos dos ataques não serão para comer mas para intimidar e afastar aquele “peixinho” do seu território.
Como podem notar sou um fã testa técnica e sei que vocês também vão gostar certamente… mas têm de ACREDITAR!
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Boa tarde.
Estou de pleno acordo com o companheiro Hugo Miguel !! Temos que trabalhar muito e Acreditar é a Chave do sucesso !! Eu trabalho tanto ou mais que qualquer colega a bordo e tenho tido a recompensa fe tal empenho !! Tive um dia de 3 Pargos Dourados !! Meu maior exemplar um Capatão com 16,2 kg Record do Mundo no IGFA. Boas Pescas e Acima de tudo Divirtam-se….
Excelente artigo, muito elucidativo e bem construído, parabéns e obrigado.
Fantástico .! Comprei um semi-rigido para usar na barragem ( os miúdos adoram) mas encontrei o site pesca embarcada e estou deliciado com as vossas partilhas. Não entendo nada, mas é o primeiro passo, vou comprar material e o barco vai começa a ir ao mar de Peniche.
Muito obrigado 😊