Texto: Jerónimo Jocanana
Fotos: Autor e Arquivo A história começou há uns anos, tantos como os do neto mais velho de Jerónimo — 15 anos. A vida sorria a Jerónimo Joana e os pargos da Ericeira não tinham segredos para este homem que se dedicava de corpo e alma a esta pesca. “Era pargueiro. Era a pesca que fazia quando não estava a treinar para as competições de pesca embarcada.
Fazia muitos pargos, mas nada que ultrapassasse os 6kg; o sul da Ericeira era para muitos um mito e fui dos primeiros a desbravar, digamos assim a Marateca, as Montanhas de Camões, local que conheço como a palma da mão”. Foi precisamente nessa fase que Jerónimo decide instalar-se definitivamente na Ericeira e para o efeito contactou um agente imobiliário, o qual era também pescador. Conversa para aqui, conversa para ali e eis que a conversa vai dar à pesca e o tal senhor pergunta a Jerónimo o que costumava apanhar ao que este respondeu, orgulhosamente, “uns belos pargos, alguns de 5 e 6kg!”.
O outro senhor não se mostrou animado e até achou o peixe pequeno para grande surpresa e perplexidade de Jocanana. “Você está a brincar comigo? São belos peixes!”. A resposta foi imediata: “venha um dia comigo e vai ver como é”. E foi precisamente isso que Jerónimo fez. Num animado grupo que rumou à Carrapateira, naquela que foi a sua estreia, apanhou o único peixe dessa jornada. Uma fêmea de quase 14kg! “Fiquei tão emocionado quando tirei o peixe que até chorei!”, confessou, mas mais surpreso ficou antes de ter feito a captura, quando lhe mostraram a técnica com que ia pescar.
E é precisamente sobre essa técnica e suas particularidades que vamos falar.
Conhecimento profundo…
A partir daí foi um aprimorar da técnica. Muitas horas passadas nas águas algarvias, muitas tormentas a passar o cabo, algumas delas sozinhas, outras com um profissional que tinha recrutado para o acompanhar, mas sem nunca deixar de visitar a sua amada Carrapateira todos os anos, logo que os capatões dão sinal, entre os meses de Abril e Julho. O conhecimento é tão profundo que é dos poucos que gradam, mesmo em dias muito difíceis.
Exemplo disso foi a última edição do Torneio de Jigging de Lagos, que este ano foi também a primeira etapa do Campeonato Nacional de Jigging. A sua superioridade por conhecimento do local foi notória, mesmo com muitos a acharem que apenas a técnica de que iremos falar neste artigo seria a vencedora; nada disso, venceu a prova a fazer jigging convencional. “Tenho aqui um ‘quadradinho’ maravilhoso e que conheço como a palma da mão; sei onde e quando devo ir, há marcas e corredores para todas as situações…dias complicados, dias fáceis, de tudo. E encaixo este conhecimento no uso desta técnica de pesca com amostra e não para a zagaia convencional, técnica que uso apenas nos ‘majuais’, caçadas com muitas aves e golfinhos”.
JIGGING vs AMOSTRA
O jigging convencional é algo que Jocanana apenas usa quando está junto a um “majual” , caso contrário pesca sempre com amostra.
Andar atrás dos “majuais” é algo que já chegou à conclusão de não ser a melhor opção e faz-se tanto ou mais peixe a pescar com a amostra, a menos que a sonda acuse que a “caçada” se está a passar junto ao fundo ou ligeiramente acima do mesmo — precisamente o que aconteceu na prova do Nacional de Jigging. Como Jerónimo referiu “o ‘majual’ até pode estar perto do barco que não vou até ele … só se estiver a navegar e/ou for muito perto”.
A técnica
Não queremos decepcionar o leitor que certamente vai ficar boquiaberto com esta técnica, tão simples quanto eficaz! A verdade é que a montagem é básica e até é uma variante permitida nos campeonatos de jigging, desde que não exceda a colocação de dois anzóis ou triplos. Mas vejamos como se constrói a montagem, começando pelo carreto. Jerónimo usa uma linha de 50 libras de multifilar no carreto, à qual acrescenta um “leader” em monofilamento com 10 braças (18m) com 0,57mm de diâmetro. O “leader” é atado a um destorcedor triplo de resistência comprovada, no mínimo, para 30kg. Na derivação que vem no seguimento da argola que liga ao “leader” coloca-se um destorcedor de alfinete onde se prende a chumbada, da derivação perpendicular saem duas braças de fluorocarbono (para não embrulhar) de 0,57mm, ao qual se ata na extremidade um destorcedor de agrafo para prender a amostra e poder trocá-la em ação de pesca. Escusado será dizer o que, Jerónimo Joana insistentemente nos disse: “O material tem de ser da melhor qualidade! São peixes que atingem tamanhos muito grandes e que têm muita força! Nunca facilitar!!
VELOCIDADE DE DERIVA
A consulta das condições meteorológicas é algo a que Jerónimo está sempre atento de maneira a programar as suas visitas “relâmpago” à Carrapateira. Estado do mar e, sobretudo, o vento, são coisas que têm forçosamente de se saber antes de cada saída. E isto porque as velocidades de deriva têm de ser muito precisas para que esta pesca funcione bem. Segundo Jocanana a velocidade tem de andar entre os 0,7 a 0,8 nós. Menos ou mais do que isso já é por a pesca nas mãos da sorte. “Não quer dizer que não se apanhe peixe, mas não é tão certo.. .”. Também importante é que a deriva seja de Noroeste para Sudeste, a direção na qual se têm mais ataques.
Colocação da amostra
Mais uma coisa simples. Para se colocar bem a montagem na água só há que assegurar que a amostra não esteja virada para o lado contrário da chumbada, isto para evitar que quando a chumbada é largada possa haver algum tipo de enleio. A linha deve manter-se esticada, sempre com a amostra de cabeça virada para chumbada. Logo que a chumbada atinge o fundo dão-se algumas maniveladas até se entrar novamente em contacto com a amostra, o que se percebe facilmente pois a mesma começa a exercer tração na água a sente se mais pressão. A este propósito veja-se o grau de mestria de Jerónimo que, de tão afinadas que as coisas estão, já sabe ao fim de quantas maniveladas sente essa mesma pressão — entre 10 e 11 voltas completas de manivela.
Depois, na fase das animações, varia de acordo com o que o fundo manda, subindo mais ou menos, indo no máximo até às 25/30 maniveladas. Ao contrário do jigging convencional, não há cá “jerkst esticões ou coisa do género. É tudo linear e apenas o carreto é que trabalha. Com este procedimento oferece-se ao predador o que quer, neste caso uma apresentação que varia do oblíquo ao paralelo ao fundo, algo impossível de oferecer na pesca vertical onde o isco anda de baixo para cima. E sobre esta técnica de pesca é só o que há para dizer, o resto são as boas águas de um mestre, um conhecimento profundo dos terrenos que pisa e uma paixão enorme por um peixe que já lhe deu muitas alegrias e que respeita profundamente.
AS AMOSTRAS
Rapala, Rapala e Rapala. As versões mais consensuais são os modelos flutuantes com destaque para o modelo Floating Magnum, amostra disponível nos tamanhos de 11, 14 e 18 centímetros. Jerónimo reforçou que os tamanhos de 11 e 14 centímetros são os que melhores resultados têm dado, nas mais variadas cores, desde os laranjas e “chartreuse” até aos pratas e azuis, as águas e humor do peixe é que mandam; é preciso ir mudando e procurar os ataques. “São amostras perfeitas para esta pesca pela sua flutuabilidade e até mesmo pelos excelentes anzóis que traz de origem, os VMC Permasteel no 4/0. Quem pensava que as Rapalas que tinham desaparecido eram as únicas ‘matadoras’ enganou-se… e quem quiser fazer esta pesca é bom arranjar um bom lote delas porque os dentes dos capatões não perdoam!”.
Sentimento de culpa
É a esse propósito que referiu algo que o deixa entristecido e com um sentimento de culpa muito grande. O facto de ter aberto caminho para a pesca profissional, fruto da divulgação das fotos das pescarias que fez.
“Sei que não sou o único culpado mas contribui para que este paraíso esteja a ser devastado pelos profissionais. Sei que é o seu ganha-pão e sítios secretos há poucos nas nossas águas, provavelmente faria o mesmo, mas nunca da forma ilegal como se está a fazer, não respeitando os pescadores artesanais de Sagres, gente que apenas pesca ao aparelho. Coser panos sobre panos, cercando as pedras com redes de 30 metros de altura e a atirar lá para dentro ‘very lights’ atados a pedras para o peixe emalhar é algo a que vou estar sempre contra! Jurei a mim mesmo que fotos públicas a estes peixes acabaram e esta edição é possivelmente o ‘ponto final: Deixar de vir à Carrapateira é que é algo que nunca farei….”
Jerónimo tem tudo afinado. Contar as voltas de manivela ajuda-o a saber o que está a fazer, sobretudo a perceber a que nível o peixe está a atacar…
Sabedoria a quanto obrigas…
E foi precisamente no fim da “época” dos capatões que rumámos de Lagos à Carrapateira.
Duas horas em que Jerónimo abriu o livro sobre algumas coisas, um homem que vive e respira a pesca! Preveniu-nos que as expectativas não eram as melhores dado estar a finalizar a época e porque a pressão dos “tais” profissionais tinha dado uma “valente coça” nas melhores pedras. “Mas eles não conhecem tudo e uns dias antes ferrei três peixes muito grandes, que não tiveram o prazer de ver a luz do dia. Algo que me é muito raro acontecer. Esperemos que hoje venha algum exemplar para bordo e que, acima de tudo, seja um dia bem passado.
Com uma manhã pouco produtiva e com pouca actividade, ainda se conseguiu enganar um macho de capatão com perto de 8kg. O nevoeiro que nos acompanhou nas primeiras horas do dia fizeram com que rapidamente Jocanana tivesse trocado a amostra de padrão “firetiger” para um prata de lombo escuro e o resultado foi o que registámos fotograficamente. Já na parte da tarde, e tentando apanhar um peixe de vulto, rumámos aos seus “frigoríficos”, pedras a que recorre em casos de emergência, leia-se: falta de peixe!
O dia já tinha aberto e com ele veio o vento previsto, o qual nos obrigou a derivas exageradas de 1,8 nós, algo absurdo para esta técnica mas que ainda permitiu que “o mestre” capturasse uma fêmea com 16kg. O sorriso de todos a bordo era enorme e Jocanana viveu o momento, como o próprio referiu, “como se este tivesse sido o meu primeiro capatão! Uma grande lição de um grande homem do mar.
Obrigado Jerónimo.
Também faço jigging!! Conheço o Sr. Jocanana já estivemos juntos nalguns concursos e jantares dos mesmosmas nunca tive o prazer de pescar com ele. Engraçado que a minha técnica preferida é exactamente a mesma que a dele, a outra o vinil. Tenho feito grandes capturas! Meu record 16,2 kg um Capatão. Abraço
Espetáculo! Que peso deverá ter a chumbada? E a que distância deverá estar a amostra da chumbada? Obrigado
Muito orgulhosamente pertenço a esta equipa, já tinha naturalmente conhecimento destas e outras histórias deliciosas que vão sendo partilhadas principalmente quando vamos a caminho ou de volta do pesqueiro, um amigo, um vizinho, uma escola.
Só têm um defeito… errou na escolha do clube :-)))
Olá boa noite,gostaria de saber muito se possível como é feito o tenso com a Rapala.Sou do norte e gosto mesmo muito de pesca e a técnica o Sr jocanana impressionou me, adorava que me pudesse dizer qual a chumbada e a distância entre ela e a Rapala.