Chocos no Eging




Texto: Pedro Neves

Fotos: Autor e Arquivo

Não é de agora que se pesca ao choco em Portugal, contudo era até algum tempo atrás uma pesca menos importante e mais profissionalizada no mundo da pesca desportiva.

Mudam-se os tempos e os gostos. O “eging” Português parece estar a crescer a passos largos, estando a despertar a atenção de centenas de novos praticantes, sendo já considerada uma das actividades na pesca desportiva em franco crescimento.

Reza a história que quem experimenta fica viciado. É relatada como uma das pescas mais engraçadas e divertidas que se conhece e quem a pratica não a descura nos meses mais intensos de Fevereiro a maio, sendo que esta pesca pode ser praticada todo o ano em diversos locais da nossa costa. O Inicio de época é evidenciado com eventuais grandes capturas de fêmeas de choco que caminham para dentro dos estuários e que podem chegar aos 8kg, o meio e fim com mais quantidade de capturas de tamanho inferior, encontrando-se esta maravilhosa espécie em batimétricas até aos 50 metros.

Equipamentos

Já é disponibilizado em Portugal pela maioria dos fornecedores os mais diversos equipamentos para o efeito. Canas entre os 1,80 e os 3 metros, dependendo se são usadas na embarcada ou na praia, em fibra ou carbono com acções baixais e ponteiras muito flexíveis. Os carretos mais adequados para ambas as práticas rondam os modelos 4000 e 5000.

Não de todo obrigatório nem fundamental é o uso de multifilares. Contudo, se assim for opte por linhas finas 0,10 a 0,15mm e no caso do nylon trabalhe com 0,30 a 0,35.

No estralho use fluorocarbono 0,40mm e optamos por usar estralhos deste diâmetro mais pois em caso de prisão permite-nos salvar mais facilmente as amostras.

O tamanho do estralho variará em função da aguagem. Quanto maior for a corrente menor deve ser o tamanho do estralho. Relativamente ao chumbo utilizado, este varia no “casting” em função de até onde quer chegar bem como na corrente que se faça sentir; no caso da embarcada a única preocupação é mesmo só a aguagem. Sinta sempre o chumbo no fundo seja em que circunstância for, só assim conseguirá efectuar capturas.

No que toca aos destorcedores, um triplo para efectuar a pequena montagem bem como mais dois de engate rápido com alfinete um para o chumbo e outro para a amostra (Nota: existem destorcedores de engate rápido sem alfinete e com “clip”).

Quanto pescamos com mais que uma cana ou linha de mão os destorcedores de “clip” são mais susceptíveis de agarrarem outras pescas por serem abertos, por isso se opta por usar de alfinete.


Amostras: palhaços

O nosso mercado é abençoado de todo o tipo de palhaços (amostras) sendo os mais adequados para o choco os de chumbo exterior, o que não invalida que se venda e use também as “barrigudas” ou outros (“radares”, toneiras). Nem todos os dias os chocos vão querer as mesmas cores, provavelmente varia em função da claridade, nebulosidade, cor das águas, salinidade, entre outros (muitos) factores. Nada como adquirir um leque variado das mais diversas cores e tamanhos. As cores mais vendidas são eventualmente as que mais funcionam e são elas os laranjas, rosas, verdes, azuis, roxos, castanhos e com barrigas holográficas, o que não que dizer que não haja regra sem excepção. Existem outras misturas de cores das mais diversas marcas que efectivamente funcionam e muito bem. O humor dos chocos altera-se facilmente e de um momento para o outro o que quer dizer que o palhaço laranja que apanhou choco nas duas primeiras horas da manhã seja o que vai apanhar o resto do dia. Em caso de deixar de capturar de um momento para o outro vá trocando de cores até acertar.

Não é difícil termos uma caixa de palhaços com mais de trinta unidade diferentes e mais dez repetidas, esta pesca assim o exige. Relativamente aos tamanhos das amostras estas variam entre 1.8, 2.0, 2.5, 3.0, 3.5, e 4.0 sendo os mais eficazes os tamanhos 2.5, 3.0 e 3.5.


Na embarcada, procure fazer derivas lentas mesmo que para isso tenha que usar um pequeno lastro, que pode bem ser um garrafão cheio de betão, dois ou três paralelos, etc.

Época

É a partir de Fevereiro que os chocos procuram os estuários com intuito do acasalamento e desova. Esta época pode ser antecipada ou atrasada em função do volume de água doce, temperatura dá água ou outras condições atmosféricas tais como ventos fortes, chuva ou ondulações, entre outras.

Influências atmosféricas

Se há coisa que o choco gosta pouco é de vento e temperatura da água baixa. As melhores marés refletem-se nos quartos crescentes e minguantes pois as águas correm menos o que promove derivas mais certas e lentas. Com condições adversas esta espécie tende a enterrar-se o que dificulta a sua captura; ao invés dos chocos se deslocarem com intuito de atacar francamente as amostras, tendem apenas em lançar os seus tentáculos mais longos o que torna mais difícil a ferragem bem como arrancá-lo do fundo visto estarem enterrados.


A técnica

Na embarcada, procure fazer derivas lentas mesmo que para isso tenha que usar um pequeno lastro, que pode bem ser um garrafão cheio de betão, dois ou três paralelos, etc.

Este lastro deve arrastar pelo fundo fazendo com que a deriva seja mais lenta se necessário; considere 0,4 a 0,7 nós uma velocidade simpática para esta pesca.

No estofo da maré retire o lastro. Só repita as derivas na mesma zona caso efectue capturas, caso contrário afaste-se alguns metros da deriva anterior com intuito de procurar mais e melhores zonas de capturas. Caso use sonda com “plotter” procure nas mais diversas batimétricas, nem sempre o choco se encontra na mesma profundidade de dias anteriores, não ignore os fundões.

Na embarcada pode usar tanto linhas de mão como canas. O Uso de linhas de mão é mais profissionalizado, sendo que o pescador desportivo prefere usar canas.

No caso de usar canas e tendo em conta o número de pescadores que o acompanha na embarcação poderá usar entre uma e três canas (o mais usual), pode assentá-las na amurada da embarcação e verificar que a ponteira está em constante vibração, isto quer dizer que está a funcionar bem ou seja o chumbo arrasta pelo fundo. Também pode animar o palhaço, dando um ligeiro esticão como se tivesse a ferrar um peixe levantando o chumbo 30 ou 40 centímetros do fundo e deixando assentar de novo.

Repita esta operação se quiser de 30 em 30 segundos para cada cana. Quando sentir prisão no fundo só pode ser uma captura ou por estar preso no mesmo.

No caso de verificar que o peso acompanha à medida que recolhe a linha então estamos na presença de uma captura; deverá recolher lentamente a linha sem parar e no caso de suspeitar que estamos na presença de uma choca grande, trabalhe-a como se estivesse a trabalhar um peixe grande.

No caso da apeada, como não nos encontramos à deriva, a técnica é ligeiramente diferente.

Faça lançamentos longos e recolha muito lentamente, pode parar mesmo e animar o palhaço levantando do fundo por um segundo. Repita estes movimentos até sentir prisão que, quando acontecer, já sabe o que tem de fazer.



Posicionamento de lastro e pescas

A máxima é: “só usamos lastro se for mesmo necessário”! Como já falámos, o lastro (peso que faz com que a embarcação faça derivas mais lentas) vai ser de uso fundamental sempre que a velocidade seja excessiva. Esta prática pode sem dúvida ter um reflexo gigante no que toca ao volume de capturas.

Numa embarcação pequena entre 4 e 6 metros e peso até 1500kg, um peso na ordem dos 4 a 6kg será mais que suficiente para a fazer derivar à velocidade a que os chocos gostam de atacar palhaços (relembramos que a velocidade da deriva será diretamente igual à velocidade que a amostra se desloca).

Como é sabido, dentro dos estuários a predominância é maior de corrente do que do vento, contrariamente ao que acontece fora das barras (em circunstâncias normais).

Inicialmente aplique o lastro num dos bordos ao centro da embarcação; nesse preciso momento vai detetar que tipo de reação de ter a embarcação face ao vento e corrente. Caso a embarcação se mantenha direita (oblíqua à corrente) está tudo bem; caso a embarcação fuja de proa, posicione o lastro mais na proa (sempre nos bordos) e caso seja de popa então aplique-o num dos bordos da popa. Aplique sempre o lastro do lado inverso ao da corrente e tal como deve(m) pescar também no lado inverso da corrente ou seja no bordo onde aplicou o lastro. A aplicação de lastro e das pescas do mesmo lado (no inverso da corrente) deve-se ao deslocamento da embarcação que será sempre mais rápido do que as pescas e/ou lastro.

As informações facultadas são baseadas em experiências próprias e de terceiros não estando isentas de discordâncias em função de outras experiências e ou locais de pesca.

CAIXAS

Não se esqueça da escova de dentes

Uma das ferramentas mais importantes nesta arte é sem dúvida a escova de dentes! Sempre que perder um choco o mais provável é ter ficado com alguma parte dos tentáculos ou ventosas agarradas às agulhas da amostra. Segundo os grandes mestres desta arte enquanto não forem retiradas essas partes das agulhas mais nenhum tentará atacar a amostra. Como tal a escova de dentes é a ferramenta ideal para remoção das partes prezas.

Truques e dicas

Se pescar com linhas de mão, use linhas mais grossas pois são mais fáceis de manobrar, ferem menos as mãos, são menos susceptíveis de enleios e mais fáceis de recuperar quando se prendem no fundo. Evite usar amostras dispendiosas na primeira deriva e ou lançamento caso não conheça o fundo. Nunca esqueça a escova de dentes. Quanto mais praticar maior será o seu sucesso. Nunca desanime.

DESTAQUES

O lastro deve arrastar pelo fundo fazendo com que a deriva seja mais lenta se necessário; 
considere 0,4 a 0,7 nós uma velocidade simpática para esta pesca.

O mercado é abençoado por todo o tipo de palhaços (amostras) sendo os mais adequados ao choco os de chumbo exterior, que não invalida que se usem também as “barrigudas”.
















Este artigo tem o apoio de PINHALPESCA

One Reply to “Chocos no Eging

  1. Ora viva, boa tarde.
    Quando não há vento, quem pratica esta actividade nos rios, consegue ter proveito nas capturas. Certo ? Certamente todos sentem dificuldade quando não há vento, nem a aguagem favorece. Ao largo de Albufeira acontece inúmeras vezes e a solução é; recorrendo à origem do Eging japonês, sendo uma arte secular praticada pelos distintos samurais do reino do sol nascente.
    Só um pormenor ou sugestão:
    O destrocedor triplo ou”T” na figura 1 é preferível que a montagem esteja igual ao da figura 2, pois o prolongamento do chicote é mais eficaz nos olhos de topo. É uma mera opinião que resulta de muitos anos de prática, sendo eficaz.
    O amigo Zé Luís já me viu pescar, ele pode auxiliar num reporte para uma próxima divulgação.
    Forte abraço e bons lances

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