Jigging a Técnica High-Pitch

Texto: Luis Ramos
Fotos: Autor

Para quem desconhece a técnica de high pitch, ela foi criada e desenvolvida tendo como base todo o conceito de SPJ. Como todas as técnicas, também esta depende de certos materiais e especificações que irei tentar explicar ao longo deste artigo.

Infelizmente quando comecei a estudar e a testar esta técnica, apercebi-me rápidamente que existia muito pouca informação disponível e a que existia estava em Japonês. Tive que passar muitas horas de mar até chegar às minhas próprias conclusões.

Em primeiro lugar, a técnica consiste em fazer com que o jig percorra a camada de água na vertical ao longo de toda a sua extensão, não com movimentos curtos (jerk) associados à técnica de speed jigging, mas sim com um único impulso forte e pausado da nossa parte.

O Jig por sua vez é impulsionado pela acção rápida da cana, do carreto e do nosso corpo, ajudando desta forma a potenciar a acção pretendida.

É uma técnica desgastante, por isso é aconselhável usar os dois braços, costas e ambas as mãos na altura de imprimir o movimento ascendente do jig.

Tenham em atenção que não se deve enrolar o carreto a meio do movimento ascendente, mas sim durante a queda do jig ou apenas no ultimo momento antes de voltar a projectar o jig para cima.

Caso tentem enrolar o carreto ao mesmo tempo que levantam a cana, vão perceber que é muito desgastante fisicamente e que se torna muito difícil.

De qualquer forma eu não encontro nenhum beneficio em usar o carreto para potenciar a acção da cana, para isso basta a nossa coordenação motora, a acção da cana e a escolha certa do jig.

Considerando o palavreado anterior, será talvez lógico referir que o engodo não deve funcionar como alimento – para isso estão lá as

Em relação ao carreto, eu não encontro diferenças em usar um modelo de recuperação mais rápida ou mais lenta, pois esse factor é fácil de manipular consoante a nossa necessidade.

O que considero muito importante no carreto é o tipo de pega na manivela, se usarmos jigs mais leves não vamos notar tanta a diferença com uma pega redonda, mas se usarmos jigs mais pesados vamos perceber que a força que fazemos para agarrar na bola aumenta, e com ela o nosso desgaste físico sem necessidade nenhuma.

O modelo de pega em forma de T garante comodidade à nossa mão com o mínimo de esforço, independentemente do peso do jig.

No caso da velocidade e do impulso inicial do jig, também ela vai variar consoante a posição da cana, se o movimento for feito com ela apoiada no antebraço, teremos um ângulo superior em comparação ao uso do butt debaixo da nossa axila.

Em contra-partida o impulso inicial é sempre menor contráriamente a ter o butt debaixo da axila.

A razão pela qual isto acontece, está relacionada com o esforço que a mão que agarra o carreto faz para manter a cana debaixo do ante-braço durante o movimento ascendente; de outra forma o butt está preso e o único esforço que a mão faz é a levantar a cana.

A meu ver nenhuma das duas posições é a melhor e ambas devem ser usadas de acordo com as condições que temos disponíveis nesse dia de pesca (causas naturais ou o tipo de embarcação).

Exemplo:

  • Se estivermos perante um barco com a popa ou proa alta, não há necessidade de ter um ângulo elevado, pois é possível baixar bastante a cana até ao nível de água, o contrário já implica ter um ângulo maior, logo o ante-braço é aconselhável.

  • Caso o intuito seja percorrer rápidamente a coluna de água, então será aconselhável ter um ângulo superior, mas se quisermos projectar o nosso jig em diversas direcções junto ao fundo em busca de peixes sedentários, a forma mais adequada será usar o butt debaixo da axila. Para que este impulso dado ao nosso jig surta efeito, não basta o uso de qualquer material mas sim o correto.

Em primeiro lugar as canas, elas têm que ter uma acção rápida para que consigam impulsionar ao máximo o nosso jig, obrigando-o desta forma a subir a coluna de água na obliqua, cortando a água paralelamente ao fundo o máximo de tempo antes de começar a cair. Existem canas especificas para high-pitch, algumas mais curtas que o normal no caso de jigs pesados, porque quanto menor for o comprimento da cana menor é o esforço que temos que fazer para impulsionar o jig. De qualquer forma podemos sempre fazer o movimento com outras canas de slow jigging, desde que as condições não coloquem em causa a acção rápida da cana e o movimento pretendido.

Quero apenas frisar que o movimento de high-pitch pode ser feito com as canas de speed jigging, mas não têm nem de perto a mesma eficácia do que as canas indicadas para o efeito, seja as de high-pitch como as de slow jigging de acção rápida. Tudo se deve ao tipo de blanks que são usados nas canas.

Em segundo lugar o jig, que pode variar em tamanho e peso, deve ser estreito e afunilado em ambas as extremidades e arredondado se possível.

Quantos menos cortes e formas o jig tiver maior será a sua fluidez, pois qualquer atrito criado pela força de água sobre o jig faz com que ele assuma desvios ou entre em espiral, prejudicando assim a sua deslocação dentro de água.

A escolha do jig deve ser feita de forma a potenciar o movimento lateral do jig e a forma que assume ao longo da queda. Para isso basta contar o tempo de suspensão do jig na água, que começa no momento em que deixamos de sentir o peso do jig após a sua elevação, até voltarmos a sentir o peso do jig mal ele começa a cair.

Para potenciar ao máximo este movimento ritmado é fundamental ser paciente e esperar até sentir que a cana atinja a sua curvatura máxima do peso do jig em queda, para depois se aplicar o movimento ascendente do jig.

Pensem numa rede elástica, onde a cana é a rede e a pessoa o jig; Se esperarem que a rede atinja a sua elasticidade máxima na curva descendente, o retorno será idêntico mas de forma ascendente.

Quebrar a curva descendente antes de atingir o ponto máximo, faz com que a distancia percorrida perpendicular ao fundo pelo jig diminua e impossibilite que ele caia para o fundo com o efeito pretendido (zig-zag, wobbling, folha seca ou misto).

Falhar este movimento final é perder 85% dos ataques, isto porque a maioria dos ataques se dão ou no final da recta antes de começar a cair, ou então durante a queda. Para que funcione, não basta o jig pausar e começar a cair para que os ataques surjam. Sem um inicio não é possivel ter um fim e é todo este processo que antecede o ataque do predador que o incita a atacar.

O movimento inicial é a incitação ao ataque e a pausa final do nosso jig, como a sua queda, é a brecha que o predador necessita para efectuar o ataque.

Temos como exemplo a tourada, onde o forcado passa a maioria do tempo a incitar o touro andando para a frente e para trás, mas no momento final em que o touro investe sobre o homem, ele está parado e só no fim sé que se desvia para o lado.

O resultado seria o mesmo sem o movimento anterior ao ataque?

Em relação ao restante material, existem outros factores a ter em conta, como a espessura do multi ou dos assists que usamos, que tanto podem ser singles como duplos, mas segundo as “regras”, apenas devem ser montados na cabeça do jig, razões essas que explicarei mais à frente. De qualquer forma, tenham em mente que estes dois últimos dados podem criar mais ou menos atrito dentro de água durante o movimento, fazendo com que o nosso jig se mantenha mais ou menos tempo paralelo ao fundo antes de começar a cair.

Para terminar esta primeira parte, quero apenas dizer que segundo as ” regras “, este movimento está associada aos grandes pelágicos e a todos aqueles predadores que se alimentam ao longo da coluna de água e que são atraídos pelo movimento lateral. Também segundo as “regras” esta acção deve ser aplicada nas horas de maior actividade do peixe, como o nascer do dia e o pôr do sol.

Agora vou explicar como é que podem tirar o máximo de proveito deste movimento e o que devem ter em atenção na altura de o colocar em prática.

Em primeiro lugar, considero “errado” pensar que este movimento apenas serve para os predadores que se alimentam ao longo da coluna de água. Se soubermos adequar os nossos movimentos e escolher bem o formato do jig, vamos entender que podemos capturar qualquer predador independentemente da camada de água em que viva.

Além do mais, como falei anteriormente, também podemos usar este movimento para procurar os predadores que vivem colados ao fundo como por exemplo as garoupas, corvinas,etc. Para isso é determinante a escolha do nosso jig como a sua deslocação dentro de água e a forma como cai.

Claro que podemos escolher um jig que apenas sirva o propósito de capturar os predadores que vivem ao longo da coluna de água, mas não é melhor se escolhermos um jig que permita efectuar o movimento e ao mesmo tempo capturar qualquer predador?

Começamos então pelo formato do jig.

Depois de realizados testes em diversas situações e capturas, cheguei à conclusão que o melhor formato que podemos escolher é aquele que foi desenhado para cortar a água e que cai ou em wobbling ou em folha seca.

Todo o jig que cai na vertical seja de cauda ou de cabeça é de evitar; eu digo isto porque a maioria dos ataques são feitos quando o jig pausa na água uma fracção de segundos antes de começar a cair, ou então durante a queda.

Se tivermos peso na cauda ou na cabeça do jig, inevitavelmente estamos a retirar ou a diminuir drásticamente o tempo de ataque por parte do nosso predador. Os predadores que vivem junto do fundo são atraídos pelo movimento de wobbling ou de folha seca do jig e afastam-se quando o jig bate no fundo na vertical, seja de cauda ou de cabeça.

Um dos testes que efectuei foi usar jigs pequenos em 3 metros de água para observar a reacção de algumas garoupas pequenas à forma como o jig caía. Pude observar que das 3 espécies de garoupas, todas elas se afastavam quando o jig caía a direito e batia com força no fundo. Elas fugiam e ficavam a ver a reacção do jig, assim que levantava o jig do fundo avançavam curiosas mas voltavam a fugir assim que o jig batia no fundo.

Eventualmente algumas acabavam por atacar, mas a realidade é que demoravam demasiado tempo. O mesmo já não se passava quando o jig caía em wobbling ou folha seca, em primeiro lugar elas ficavam a olhar o jig a cair, assim que ele tocava no fundo avançavam até ficarem a um palmo do jig e quando eu o levantava e deixava cair novamente, elas atacavam.

Também fiz testes entre um jig e um vinil.

No caso do vinil existem duas diferenças a favor.

A primeira é que a cabeça do vinil define o sentido do mesmo, ou seja nunca anda para trás como é o caso dos jigs que têm o peso na cauda. Se pensarmos, as presas não se movimentam para trás mas sempre para a frente.

A segunda diferença está na vibração que a cauda do vinil faz estimulando o predador e que de certa forma ajuda a diminuir o embate do cabeçote no fundo. Já no caso do jig não existe essa vibração, pois apenas cai na vertical como um peso morto.

Outra mais valia deste movimento, é a capacidade de sondar num raio definido pela deslocação do jig, ou seja, quanto maior for a deslocação do jig na lateral dentro de água, maior é o raio de acção na sondagem do fundo. Se pensarmos bem, reparamos que cada vez que o jig sobe na coluna de água e se desloca para um dos lados, ele caí num sitio diferente. É como se jogássemos à batalha naval, mas ao invés de andarmos à procura de navios, andamos à procura dos predadores que vivem ou circulam junto ao fundo e que por natureza têm tendência a ser menos activos.

Também é muito importante ter em atenção que quando sofremos o ataque ao jig e o predador não fica ferrado, termos o cuidado de parar o movimento de high-pitch e mudar para Long Fall, de forma suave, lento e curto. O intuito é fazer com que o jig suba e caía o mais lento possível mas sempre no mesmo sítio, de maneira a estimular o predador a um novo ataque.

Se mantivermos o movimento de high-pitch logo a seguir a um primeiro ataque sem que ele se ferre, pode retirar a possibilidade de um segundo ataque.

É importante não esquecer que o nosso objectivo inicial é encontrar o predador e depois de o encontrar, dar-lhe o máximo de oportunidades para atacar sem que tenha que se esforçar. No caso dos predadores que vivem no fundo, aconselho mudar de high-pitch para long fall após o primeiro ataque , mas se este for feito ao longo da coluna de água, aconselho baixar para metade a força do impulso inicial ou então passar para jerks curtos.

Basta ter em mente que independentemente do que façamos, após o primeiro ataque falhado o movimento do jig deve ser imediatamente alterado.

Apesar de high-pitch estar associado às horas de maior actividade dos predadores, não invalida que não o usemos nas horas de menor actividade, sempre enquanto, o intuito for capturar algum predador de fundo ou explorar uma zona nova. Desta forma conseguimos perceber que tipo de fundo é que temos através das diversas espécies capturadas, adequando desta forma a táctica ao terreno ou espécie.

Caso não capturemos nenhum exemplar de registo, guardem toda a informação de prospecção pois vai ser muito util no futuro. Existem zonas que numa determinada altura do dia ou do ano podem estar desertas mas que ganham vida noutra altura. Interiorizar os hábitos de qualquer predador ao longo do ano é uma mais valia para perceber que zonas é que podem dar frutos ou não, no futuro.

Também devemos ter em atenção que os predadores que atacam os jigs durante este movimento por norma são exemplares grandes, logo, devemos ter em atenção ao material que estamos a usar (multi e leader). Aumentar o diâmetro do nosso multi ou leader deve ser feito de forma consciente no sentido das condições do dia, profundidade, deriva, espécie,etc.

Quanto maior for o diâmetro de multi e leader, maior vai ser a nossa margem de segurança na altura do combate, por outro lado vamos ter muitos menos contactos de todos os outros predadores mais pequenos, além de prejudicar a deslocação do jig dentro de água derivado ao atrito do multi e do leader.

Em relação aos assists, vai depender da espécie e do terreno de pesca. Eu uso assists duplos apenas quando o terreno de pesca é pouco acidentado (menos prisões), ou quando pretendo capturar espécies mais pequenas e uso assists singles quando estou à espera de capturar um exemplar grande ou a sondar o fundo.

É preciso não esquecer que o problema das prisões dos assists no fundo marinho diminui à medida que a profundidade aumenta. A partir de uma certa profundidade a luz solar já não chega, logo o fundo marinho altera-se tornando-se mais liso e menos propeço a prisões.

Em ambas as montagens dos assists, seja para colocar na cabeça do jig ou na cauda, eu uso corda com núcleo de fluorcarbono para dar rigidez por duas razões:

A primeira é porque quando efectuamos o movimento de high-pitch e o jig se coloca na horizontal, o leader fica paralelo ao jig, facilitando desta forma que o ou assists da cauda se enrolem prejudicando a sua natação. Para que isto não aconteça é preciso rigidez na corda, de forma a ela tocar no leader e não se enrolar. É por essa razão que por norma os jigs apenas levam os assists na cabeça do jig e nunca na cauda, permitindo que nunca se enrolem no leader.

O problema de colocar os assists só na cabeça do jig está relacionado com os ataques que perdemos.A forma como o jig cai na água define a zona de ataque do predador. Se ele cai de cauda ou de cabeça não existe necessidade de colocar assists na cauda, pois o nosso intuito do movimento não está na queda do jig mas sim na pausa antes de ele começar a cair.

Caso o nosso jig caia em wobbling ou folha seca , torna-se obrigatório colocar assists singles ou duplos na cauda, pois a maioria dos ataques vão ser feitos a essa zona. É por isto que eu aconselho a terem a perfeita noção de como trabalha o jig para não falhar as ferragens. Esta é razão principal dos ataques falhados, não pela falta de assists na cabeça mas sim pela falta de assist na cauda.

O predador faz o ataque ao jig, sentimos que ele agarrou no jig mas por alguma razão desferrou-se e então pensamos que pode ser por azar ou por falta de assists. O que se passa na realidade é que ele ataca a cauda durante a queda do jig e assim que arranca na direcção do fundo, sente resistência e acaba por largar. Digo isto por experiência própria, porque na realidade a probabilidade de um peixe se desferrar é mínima se tivermos as montagens corretas e no sítio certo.

Em segundo lugar, a rigidez da corda nas montagens dos assists ajuda em caso de uma prisão no fundo marinho. Uma corda com rigidez permite empurrar o assist para a frente para que se desprenda da pedra, ajudando a soltar o jig do fundo.

O mesmo já não acontece quando a corda é mole, o jig mexe mas a corda torce ao invés de se manter direita e empurrar o assist.

O principio é o mesmo que tentar tirar um jig do fundo usando a cana ou a nossa mão, no caso da cana ela tem elasticidade, logo não tem impacto directo sobre o jig. Já no caso de usarmos a mão para abanar o multi, de forma a soltar o jig, faz com que retiremos toda a elasticidade e o impacto sobre o jig seja directo.

High-Pitch, é na verdade um movimento que nos pode dar grandes exemplares se soubermos aplicar nas alturas certas.

Todos os meus peixes grandes foram capturados com este movimento, mas só depois de o interiorizar, aperfeiçoar e perceber como tirar proveito dele.

O mesmo movimento também me ajudou a perceber novos fundos e a descobrir novas formas de capturar as mesmas espécies.

Em relação ao vídeo, Se tomarem atenção, vão reparar que eu mudo o impacto sobre o jig e seus movimentos de acordo com os ataques e objectivo em mente. Tal como a zona do jig que é atacada.

Espero que este artigo com base na minha experiência vos ajude a melhorar as vossas idas ao mar em busca dos vossos troféus.

Modern Angler
ZENAQ
ZENAQ – International

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