Tenya

Um híbrido “importado”do Japão

Texto: Hugo Modesto
Fotos: Autor

A pesca desportiva está em constante evolução, muito por culpa da globalização da comunicação, permitindo que os praticantes comuniquem entre si partilhando experiências e técnicas assim como os resultados obtidos.

No seguimento do que tem vindo a acontecer, mais uma vez “importámos” uma técnica ancestral japonesa, a pesca com tenya.

Logicamente, com algumas adaptações necessárias a cada realidade mas mantendo os seus princípios básicos.

O princípio desta técnica é simples e junta um cabeçote de chumbo com um anzol e um assist hook; estes serão iscados com isco natural e o conjunto será animado junto ao fundo.

A magia da pesca com tenya é que permite a captura de uma infinidade de espécies completamente distintas umas das outras, tanto em hábitos alimentares como no seu comportamento. Este híbrido já me permitiu capturar sargos, douradas, pargos, bicas e rascassos… comprovadamente um “todo terreno”.

A pesca com tenya é provavelmente a técnica japonesa que está mais próxima do nosso conceito de pesca ao fundo embarcada.

A escolha das canas é determinante para se executar bem a técnica, assim como a embraiagem dos carretos ter de ser boa dado pescar-se muito fino.

Vantagens… e desvantagens

Em relação à tradicional pesca ao fundo apresenta algumas vantagens:

  • A Tenya é uma técnica que se pratica com a embarcação à deriva, evita os constrangimentos da manobra de fundear, especialmente quando pescamos em maiores profundidades.
    Quantas vezes temos de repetir os procedimentos até ficarmos no sítio certo?!
    E quando o vento ou a corrente muda, temos de corrigir a posição da embarcação e voltar a fazer tudo de novo!
  • Com o recurso a uma sonda podemos procurar e deixar cair com precisão o nosso isco, mesmo na marcação que achamos ser aquele cardume de peixes de maior porte, possibilitando corrigir o sítio de largada conforme o cardume se vai movendo.
  • O facto de estarmos a pescar no mesmo sítio funciona como engodo, o que pode levar ao aparecimento dos indesejados cardumes de choupas, carapaus e cavalas que muitas vezes nos comem o isco ainda a caminho do fundo, tornando difícil a tarefa de capturar um troféu.
  • A rapidez com que podemos mudar de pesqueiro e se for o caso disso revisitar “aquele” que horas antes nos deu um bom exemplar.

O princípio desta técnica é simples e junta um cabeçote de chumbo com um anzol e um assist hook; estes serão iscados com isco natural e o conjunto será animado junto ao fundo.

O assist hook permite cobrir uma maior área do camarão e assim aumentar a taxa de ferragem.

Chamo a atenção para o facto de as condições meteorológicas serem vitais para se puder efectuar esta pesca. Para podermos pescar à deriva teremos de ter derivas com velocidades médias em redor de um nó, preferencialmente inferior.

Composição do híbrido

O que vulgarmente chamamos de cabeça de chumbo funciona como um lastro para o isco, equipado com um anzol principal de maiores dimensões que está especialmente desenhado para o corpo de um camarão e que ainda possui um assist hook com anzol mais pequeno mas em que o assist é mais comprido que o anzol do chumbo permitindo assim cobrir o restante isco.

A tenya pode apresentar os mais variados formatos e cores, dos mais simples aos mais elaborados. As ovais, como é o caso dos Zero-Dan Tenya OS-1 da Decoy, são muito simples mas funcionam muito bem, alcançando o fundo facilmente fruto da sua forma, possibilitando assim serem usados com gramagens mais reduzidas.

A forma de fixação do anzol ao chumbo dá-lhe uma mobilidade apreciada pelos peixes mais desconfiados. Recentemente a Decoy inovou o conceito de tenya criando o modelo Slide Multi Tenya OS-2 com o formato de casco de barco.

Para além da forma, destaca-se pelo facto de ter um canal por onde passa o fio e corre livre como se de uma chumbica se tratasse. Este modelo permite que a queda do nosso isco seja feita de uma forma mais planante e faz dele uma agradável surpresa já com provas dadas.

O formato do anzol que está agarrado ao chumbo indicia o tipo de isco a usar preferencialmente com a técnica: o camarão.

O isco rei

Originalmente a tenya nasceu para ser usada associada a um camarão. É sem dúvida o isco mais utilizado nesta técnica não só pela facilidade de aquisição, mas também pelos resultados com ele obtido. Revelando-se um isco muito polivalente, prova disso é o leque de espécies que o morderam.

O tamanho ideal será directamente proporcional ao comprimento do anzol principal e ao comprimento do assist.

Mas certamente o calibre do camarão estará entre os 100/120 ou 80/100. Este calibre está expresso no exterior das caixas e este número indica o número de camarões por quilo, entre
100 a 120 ou 80 a 100 camarões, respectivamente.

Preferencialmente uso de origem selvagem em detrimento dos de aquacultura.

Recentemente apareceram algumas soluções de imitações de camarões impregnados com aromas como é o caso dos Dappy Saruebishimp da Nikko.

Também podemos recorrer a lula ou choco fresco para iscar a nossa tenya, sejam eles inteiros (de pequena dimensão) ou em tiras (se forem maiores)

Originalmente a tenya nasceu para ser usada associada a um camarão.
É sem dúvida o isco mais utilizado nesta técnica não só pela facilidade de aquisição, mas também pelos resultados com ele obtido.

O equipamento

Considero esta técnica como uma das mais light e que possibilita capturas de grande porte, reconhecendo a elevada importância na hora de seleccionar o material que vamos usar.

Quando me iniciei, usei uma cana de spinning leve (Tenryu Injection SP82 MH) que é uma óptima alternativa para quem se quer iniciar.

O facto de ser uma técnica já praticada há muitos anos no Japão, e por isso mesmo existirem praticantes muito experientes nesta modalidade, possibilitou às marcas criarem canas com características próprias que esta disciplina exige; o comprimento destas deve estar compreendido entre os 2,20 e os 2,50m. Quando pesquei com a cana da Tenryu modelo Red Flip Reaction- Tenya percebi a importância de ter uma cana criada especificamente para este fim.

Dotada de uma ponteira fina, montada com passadores quase sem pata (ficando mesmo junto ao blank), que potencia a ressonância transmitida, tornando-nos capazes de distinguir o mais suave toque, fazendo lembrar um pouco as canas de pesca do “pica-pica” mas ligeiramente mais rija. Na parte traseira a cana é mais rija dotada de boa capacidade de controlar e elevar até mesmo o mais destemido pargo-sêmea.

O carreto não terá um papel tão essencial como o da cana, mas facilitará o trabalho se optarmos por um que tenha uma boa saída de linha, que o fio saia fluidamente sem prisões
no rebordo superior da nossa bobine. Estando a pescar com pequenos pesos é vital que o
nosso isco atinja rapidamente o fundo sem que haja paragens pelo caminho. Um bom carreto
de spinning de tamanho entre o 3000 e o 4000 será uma boa opção.

Curiosidade

A numeração quer das canas quer das tenyas, a atestar a ancestralidade desta técnica, ainda é feita com unidades japonesas designadas por Momme (o Japão adotou o sistema métrico em 1924) e aparecem com um G maiúsculo que não deve ser confundido com o grama. 1 Momme corresponde aproximadamente a 3,8 gramas. Assim, a indicação “Lure WT” 5-16G corresponde a 18-60g.

Atenção à embraiagem que deve ser de boa qualidade; vamos pescar com fios finos e podem sair bons exemplares. A escolha de um multifilamento fino é uma regra, deverá ser fino para que a corrente tenha uma menor incidência, não fazendo levantar a tenya do fundo e, consequentemente, forçando-nos a aumentar o peso, desvirtuando a técnica.

Devemos usar um multifilamento do tipo do YGK Super Jig Man com diâmetros compreendidos entre o PE #0,8/1,5 no máximo (0,14mm/0,20mm).

No final do multifilamento colocamos um monofilamento de nylon (0,25/0,35, com 3 ou 4 metros) ou fluorocarbono (0,30/0,35, com 5 metros). Na união com a Tenya, usamos um clip (snap) preferencialmente com destorcedor, evitando torções prejudiciais à resistência e longevidade das linhas finas e pela facilidade de mudar de tenya.

A pesca com tenya é provavelmente a técnica japonesa que está mais próxima do nosso conceito de pesca ao fundo embarcada.

Vamos pescar!

A pesca com tenya não é complicada. A regra mais importante é usar o menos peso possível de forma compatível com a profundidade, a deriva e a corrente.

Devemos ter presente que não é importante pescar na vertical, muitas vezes para que isto aconteça estamos a usar uma tenya excessivamente pesada, prejudicando a sua natação.

O facto de se usar peso a mais é igualmente negativo na hora dos peixes a comerem, em especial aos que se alimentam por sucção, quando a isca entra na boca, ao sentirem a falta de naturalidade pelo excesso de peso, faz com que abandonem instantaneamente a isca. Não devemos por isso desprezar o peso adicionado pelo isco natural.

A animação consiste em deixar cair a tenya até que atinja o fundo, fechamos a asa de cesto (pick up) e com a cana fazemos elevações lentas e amplas, até o nosso braço atingir quase a verticalidade, alternando este movimento com algumas paragens.

Quando, pelo efeito da deriva se percebe que o ângulo entre a ponteira e o fio está a aumentar, e por consequência a Tenya está a ficar muito distante do fundo, devemos voltar a abrir o nosso carreto e deixar tocar novamente no fundo.

Atenção: muitos ataques acontecem logo na primeira queda, quando fechamos o carreto e fazemos a primeira elevação sentindo um peso, devemos ferrar rapidamente, podemos ter tido um ataque ainda a descer. Ao sentirmos alguns toques, devemos baixar a cana, deixando o isco cair.

É frequente que neste momento aconteçam os ataques mais francos, aproveitando a liberdade dada pela falta de tensão na linha. É frequente, em alguns vídeos japoneses demonstrativos da técnica, vermos animações bruscas e com toques nervosos. Desaconselho de todo! Os nossos peixes apesar de aparentemente serem parecidos, são espécies com comportamentos e hábitos diferentes.

Deixemos de lado o nosso típico cepticismo e vamos acolher o que vem de fora, quando de boa qualidade se tratar.

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