
Texto: José Luis Costa
Fotos: Autor e ArquivoDurante as jornadas de Verão, na pesca dos “DIVERSOS”, o peixe abunda e as capturas são muito regulares.
A verdade é nem sempre é do peixe que mais desejamos.
A pesca é muitas vezes feita de detalhes, pequenas coisas que se podem fazer, nas alturas certas, que podem alterar completamente um dia de pesca que se está a revelar “miserável”.
Não existe a presunção de que “descobrimos a pólvora” – é no entanto o resultado da experiência de muitos especialistas, durante muitas horas de pesca.
Nas próximas linhas deixo algumas dicas para “tentar escolher” o peixe e ter desta forma uma geleira ainda mais variada.
1 – FUGIR AS BOGAS E CAVALAS
Uma das razões pelas quais se capturam tantas bogas e cavalas é porque a pesca se fixa num determinado ponto, levando a que estas incansáveis criaturas procurem alimento no local onde a pesca cai. A pesca atravessa o cardume que está instalado logo acima do fundo e mal os peixes detectam alimento a ir para baixo, de imediato o seguem; como a pesca fica “trancada” no fundo conseguem atacá-la mal atinge o fundo e aí não há nada a fazer, ou haverá?
Claro que sim. A solução mais fácil poderá ser reduzir o peso da chumbada; a ideia não é má mas poderá levar a que ocorra o mesmo problema se a aguagem não for muito forte, ou seja, se a chumbada for mais leve mas se tiver um formato mais hidrodinâmico, em forma de torpedo, poderá ficar trancada no fundo impossibilitando que a pesca se movimente e “trabalhe”, sendo inevitavelmente atacada pelas “piranhas”.
Daqui resulta mais um aspecto a ter em conta: o formato da chumbada. Para o efeito deveremos apostar num formato diferente do habitual, mais arredondado que permita que a pesca “role” ao sabor da aguagem, por muito ligeira que esta seja, acabando muitas das vezes por fugir ao cardume e encontrando por vezes um peixinho de jeito. Em tom de resumo, uma chumbada redonda e o mais leve possível será o mais indicado para enfrentar este tipo de situações.
2 – CARDUMES A MEIA-ÁGUA
No entanto pode haver situações em que opte por uma chumbada mais pesada do que aquilo que as condições exigirem e privilegie a cor preta, sem brilho de espécie alguma.
Até mesmo as chumbadas sem cor ou revestimento, apenas em chumbo e especialmente se forem novas, brilhem um bocado e isso vai chamar a atenção dos peixes, quer positiva querem negativamente, a razão para esta opção de cor e aumento de peso de chumbada é simplesmente porque temos de combater os maiores inimigos da pesca nesta altura, inimigos que se chamam cavalas e bogas.
O objectivo é fazer com que a pesca desça o mais rapidamente possível pelos densos cardumes destes peixes e sobretudo numa cor que não desperte a sua atenção.
Se tiver chumbadas para estrear no dia da pesca coloque-as de véspera em água com sal e vinagre para irem escurecendo devido à oxidação.
3 – ADAPTAR A MONTAGEM
Para fugir à “rataria”, e numa montagem de 3 anzóis, o que deveremos fazer é encurtar os 2 estralhos de baixo para metade, a rondarem os 20 centímetros. Desta feita, e se o cardume estiver junto ao fundo poderemos entreter as bogas com o estralho mais comprido que fica em cima, iscado com berbigão ou camarão, enquanto os dois de baixo serão iscados preferencialmente com uma isca diferente na tentativa de “atrair” um bom peixe.
Esta operação é ainda mais fácil de efectuar se utilizarmos ‘cross beads” na montagem, bastando para isso cortar, dar um novo nó e está pronta a pescar.
4 – PESQUE MAIS “FORA”
Uma opção esquecida por muitos muitos pescadores quando na vertical, por baixo do barco, as cavalas e bogas se vão sucedendo, não deixando entrar as safias, choupas e outros peixes mais nobres.
A quem é que já não aconteceu apanhar na primeira descida da pesca uma bandeira com duas choupas nos anzóis de baixo e uma cavala no anzol de cima? E logo de seguida, no segundo lançamento por baixo do barco vir apenas uma choupa ou safia no anzol do meio, uma boga no anzol rente à chumbada e uma cavala em cima, por exemplo? Regra geral, mesmo baixando a espessura da linha e dos anzóis, o mesmo vai repetir-se, sobre tudo se a pesca se mexer. Ao mínimo movimento esta “rapaziada” atiram-se logo aos nossos anzóis.
A solução passa então por aquilo que se chama pescar “fora do barco”; fazendo lançamentos afim de evitar estes cardumes tentando peixes que andem na periferia dos mesmos.
Isto acontece pois o peixe de melhor qualidade não se consegue instalar por causa das cavalas e bogas mas também porque sobretudo se as águas forem limpas ou em pesqueiros baixos a sombra do casco assuste os peixes e deixa-os mais desconfiados.
Esta medida pode será acompanhada por pescar mais fino e com iscadas mais pequenas. Por vezes até não se isca o anzol de cima, como ‘não há bela sem senão”, o risco de prisões é maior, sobretudo se o fundo for áspero, com rochas mais complicadas e nos fundos de ramagem um risco que tem de se correr…
É nestas situações que uma cana mais comprida facilita bastante o lançamento para “fora do barco”

5 – APOSTAR NA QUALIDADE
Uma das formas de tentar-mos apanhar uns peixes vermelhos, nome por que habitualmente se designam peixes como os pargos e bicas, e só para dar alguns exemplos, é fazermos algumas alterações na nossa montagem, chumbada incluída a hora de “ataque”.
Refira-se que muitos pescadores fazem aquelas capturas de sonho a horas menos próprias, já para não dizer impróprias! Por vezes com o Sol a pique saem aqueles peixões de sonho e contrariamos assim uma tendência mais do que estabelecida.
Dois estralhos mais compridos, a rondar os 60 centímetros e uma chumbada vermelha na casa dos 200 gramas poderá ser aquilo que precisamos para tentar a sorte.
Como não há milagres convém utilizar um estralho na casa dos 0,35 em fluorocarbono e anzóis 1/0 iscados de uma maneira generosa com aquilo que acharmos que os peixes poderão desejar.
6 – SABER NEGAÇAR
Negaçar é quase proibitivo quando temos ‘toneladas” de bogas e cavalas debaixo do barco. No entanto, quando se consegue estar num pesqueiro onde estes peixes estão mais arredados é importante negaçar para “produzir’, provocar os toques, naqueles dias em que o peixe está mais difícil e colado ao fundo.
O que há a fazer é umas pequenas estiradas laterais com a cana de modo a arrastar a pesca mas sem a levantar, Desta forma evitamos colocar as iscadas ao nível desses peixes, que não hesitarão em atacá-las, nestas ocasiões é também importante abdicar do anzol que fica mais por cima e em algumas das vezes até se costuma encurtar os estralhos para as iscas não provocarem tanto as bogas e as cavalas.
Para além disso, e caso os toques fossem mais ‘manhosos” há que recorrer a iscadas mais próprias para pesca difícil, que no caso da amêijoa implica retirar a unha e usar apenas a parte da tripa sem salgar e atar, de forma a oferecer ao peixe uma iscada pequena e natural.
Não esquecer que a unha é clara e convém não chamar muito a atenção de cavalas e bogas, estas últimas também agarradas ao fundo.
7 – CHOUPAS E BESUGOS: OS ESTRALHOS
Se tradicionalmente pescamos as choupas recorrendo a estralhos mais compridos, com aproximadamente 45 cm, no caso dos besugos isto altera-se completamente, sendo o comprimento dos estralhos mais reduzido, rondando a casa dos 35 centímetros, podendo mesmo ter apenas um palmo quando eles estão “em camada”.
Isto no caso dos besugos é valido, mas somente para alturas em que estão a comer bem, alturas que correspondem a mares com mais aguagem e, por exemplo, mares de maiores amplitudes. Então o que é que vai acontecer se não houverem estas condições?
Resposta óbvia: temos de aumentar os estralhos para os besugos, ficando a montagem idêntica à das choupas, que não se mostram tão relutantes como os tresloucados besugos. Ficamos assim como uma montagem “2 em 1”. A primeira parte do nosso problema está resolvida.
8 – FORMAS DE COMER
As choupas e os besugos têm formas diferentes de se alimentar e, referindo o caso específico do besugo, podemos dizer que difere bastante da choupa.
Este peixe tende a ser mais “mamão”, andando um pouco aos restos dos iscos que andam no anzol e, mesmo o que está preso no anzol é colocado na boca e muitas vezes cuspido num ápice. Daqui se conclui de imediato, e até vendo pela maior voracidade da choupa, que teremos de usar iscos diferentes caso queiramos ser mais selectivos nas nossas capturas.
As soluções são então dispor de dois tipos de iscos distintos, o camarão e a amêijoa.
O primeiro será mais indicado para os besugos ao passo que a segunda será mais indicada para as choupas. A explicação é simples: atendendo à forma como já vimos que os besugos se alimentam, o mais recomendável é fazer iscadas com pequenos pedaços de camarão, ligeiramente esfarelados e sem que sejam atados. Procedendo desta maneira, a iscada vai soltando alguns pedaços que vão tentar o besugo, levando-o assim a “carregar e ficar ferrado.
Já no caso da choupa é precisamente o inverso; a iscada não deve ser tão solta (embora também não deva ser atada) e deve ser constituída por dois ou três miolos de amêijoa iscados de forma aglomerada num anzol nº 1 ou 2, formando uma “bolinha”. No caso da choupa não devemos ir ao toque e, o facto de termos uma iscada grande, permite que o peixe vá comendo de forma cada vez mais segura, até se ferrar. Aqui se chama a atenção para o facto de não se ir ao toque, não só para não o falhar como também para não levantar a pesca e fazer com que o peixe-miúdo ataque.
9 – QUESTÃO DE ALTURA
Nos dias de mar calmo e pouca aguagem é habitual os peixes alvorarem um pouco.
Para os menos atentos basta verificar a posição da bóia e da proa do barco para ver que realmente esta situação se está a verificar. O peixe ao subir, e no caso de ser peixe de qualidade, deve utilizar-se mais um pequeno truque para o conseguirmos desencantar no “andar de cima”.
O truque é simples e passa por colocar um acrescento de linha que se chama “elevador” com o intuito de colocar a pesca a trabalhar na zona onde suspeitamos que o peixe se colocou. Se por exemplo capturamos peixe no anzol do meio devemos subir a pesca cerca de 30 centímetros, devendo ser esse o comprimento do elevador. Lógico que esta extensão não é mais do que um pedaço de linha no qual colocamos na sua extremidade a nossa chumbada.
10 – USAR A CABEÇA
Se já vimos que há que usar a cabeça para fugir às cavalas e bogas, também podemos usar a cabeça do camarão para seleccionar peixes mais nobres e de cor mais rosada, leia-se bicas e pargos, sem esquecer os sargos-legítimos, sargos-veados e as douradas.
De facto, iscar apenas com a cabeça do camarão ou gamba pode dar resultados muito interessantes, já para não falar de uma iscada inteira deste isco, com cabeça e casca, uma verdadeira iguaria que selecciona sem dúvida nenhuma os peixes com que todos sonhamos.
Se o “mestre” da embarcação disser que é uma pedra boa desses peixes e se a “arraia-miúda” incomodar não hesite… use a cabeça ou tudo!!!
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