Improviso dos Iscos

Uma manha bem passada com dois campeões

Texto: Carlos Abreu
Fotos: Autor

Participação: Paulo Patacão

Participação: Fernando Hilário

PESCAR BESUGOS COM IMPROVISO ERA A MISSÃO PRINCIPAL INCUMBIDA AOS CAMPEÕES PAULO PATACÃO E FERNANDO HILÁRIO. PARA O EFEITO OS ISCOS QUE SE LEVARIAM A BORDO ERAM EM QUANTIDADE MÍNIMA E A IDEIA ERA MOSTRAR O PODER DE ADAPTAÇÃO QUE O PESCADOR DE ALTO MAR DEVE TER EM CERTAS SITUAÇÕES. MAS AQUELA MANHÃ FOI UMA LIÇÃO A OUTROS NÍVEIS…

A ideia era mostrar que com poucos iscos a bordo se pode fazer uma boa pesca. Não queremos dizer com isto que não deve ir sempre prevenido para o mar, afinal, quem vai para o mar avia-se em terra”. O intuito era mostrar que quando os besugos estão em força e os iscos começam a escassear a bordo, se pode recorrer a outras espécies, tais como as cavalas e os carapaus para iscar com sucesso e compensar o pouco isco que vamos tendo. Um caso limite seria levar apenas uns aparelhos para pescar aos carapaus, mas não chegámos a tanto.

TUDO CONTADINHO…

Até eu fiquei surpreendido quando vi o que estes dois pescadores tinham trazido para pescar!

Duas lulas, dois chocos, quatro batatas e sete sardinhas… e era só!

Bem sei que as iscadas que por vezes fazem para apanhar os besugos são pequenas e que se tratando apenas de duas pessoas a pescar e apenas até à hora de almoço, até daria, mais ainda quando o objectivo era mostrar alternativas perante faltas de isco a bordo. Mas mesmo assim parecia curto.

Mas, nada a fazer e já estávamos a bordo do espaçoso Pescaki, embarcação MT, rumo a sul à procura dos besugos (nota do editor: há data da realização deste artigo as douradas eram poucas ou nenhumas nos locais habituais).

OLHA QUE DOIS!

Se Paulo Patacão, vice-campeão nacional, o que dizer de Fernando Hilário que andou metade da sua vida ao mar com pai e avô?

E caso para dizer “olha que dois” e não restassem muitas dúvidas que havia naquelas cabeças e GPS muitas marcas onde pudéssemos encontrar os besugos.

Chegados ao primeiro local, sonda aberta e toca a tentar perceber que tipo de vida havia naquelas bandas. A princípio ficámos assustados pois parecia um deserto… não marcava um cabelo naquele fundo.

É aqui que vem a experiência destes pescadores ao de cima e decidiram procurar ligeiramente mais a Norte, até que viram um pontilhado “agarrado” ao fundo; podiam ser besugos, mas era uma marcação pequenas e que não parecia ser de muita concentração.

Havia que fundear bem e para isso a dupla trabalhou bem e ficámos em cima do que se pretendia. Seriam besugos, aquilo que marcava na sonda?

ASPECTOS TÉCNICOS

Se há coisa que esta rapaziada é por natureza é serem competidores natos. Para eles isto é sempre (ou quase sempre) um treino, Hilário foi o primeiro a pescar; a aguagem corria a sul, num pesqueiro com 65 metros de profundidade e decidiu optar por colocar sardinha (da pouca que se tinha) em troços e no anzol de baixo e uma fina tira de lula no anzol de cima, a ideia era, segundo ele, perceber se eram os besugos que estavam colados ao fundo e se andava “isco” — cavalas e carapaus — a andar por cima.
Paulo Patacão optou pela mesma estratégia mas, havia uma diferença entre ambos. Estes dois pescadores alertaram para o facto da escolha do anzol ser importante; Hilário pescou com anzóis chinu mais robustos e de no 1 e 1/0, Patacão optou por uns Sasame Yamame mais pequenos. Paulo referiu que “‘isto é propositado, pois eu com estes anzóis antevejo uma situação mais complicada e o Hilário uma pesca já mais franca; a explicação é que com esta aguagem e se houvesse besugos, ferrava-se um, esperava-se pelo segundo e eventualmente um terceiro se estivessem a montes. Obviamente que isso requer anzóis mais forte POIS enquanto se espera pelo segundo e terceiro o primeiro pode ceder e ir à “vida; Eu optei por um anzol mais fino, para pescas mais difíceis, em que se tem de ferrar à primeira. Agora é só ver o que se vai passar”.

MAIS UM DETALHE!

A acção começou e de imediato Hilário sente peixe. “Parece ser besugo”, disse enquanto puxava para cima. Nada mas; nada menos’ O primeiro protagonista desta jornada estava embarcado; o detalhe é que tinha sido naquilo que menos se esperava, no anzol de cima, na tira de lula. Com Paulo foi a mesma coisa e tudo indicava que os besugos estavam ligeiramente levantados do fundo.

Nem se podia dizer que a pesca estava a correr mal o que não se estava a conseguir era apanhar cavalas e carapaus, iscos que queríamos mostrar serem eficazes para os besugos. No entanto, algo estava também a acontecer: a poupança de isco, mais concretamente da lula, isco que estava a revelar-se mortífero.

Paulo Patacão explicou que faz uma iscada brutal para pescar com aguagem pois está sempre a trabalhar, parece um rabinho a dar a dar. Para além disso “é muito resistente como provam os cinco besugos seguidos que capturei com a mesma iscada”, referiu o vice-campeão nacional de 2013.

Os RALOS

Um dos segredos bem guardados da pesca em provas não oficiais de barco fundeado é o uso dos ralos na pesca ao besugo e às sarguetas, sobretudo em terras algarvias. Estes peixes são absolutamente loucos por esta isca e há quem chegue a levar umas centenas deles para uma prova, tal é a sua eficácia.

FINALMENTE… ISCO A BORDO

Ao fim de alguns besugos lá começaram a sair os primeiros carapaus e cavalas, desta feita nos anzóis esperados — os de cima. Para o exemplificar fica o exemplo clássico do que se esperava: choupa no anzol de baixo, besugo no do meio e cavala ou carapau no de cima.
E assim foi, com algum ritmo e durante cerca de uma hora lá foram saindo uns besugos, até que foi altura de mudar para os iscos alternativos os “SOS” Hilário reforçou alguns aspectos a ter em atenção quando se isca carapau e cavala, nomeadamente o de se tirar a serrilha do carapau mas também o de se utilizar um anzol mais forte e num tamanho que pode variar entre o no 1 eo 1/0.
Para o efeito, a sua predilecção é iscar com o tubo ou “colher” com a isca bem atada.
‘São iscas de sangue às quais o peixe adere bem, para além de terem alguma resistência e aguentarem bem no anzol. São muito boas para quando o peixe está a montes. Para as iscar opto geralmente pelo tubo atando pedaços do lombo ou filetes que retiro junto à cauda, ainda com pele, tal como fazemos com a sardinha; a diferença é que não deixo uma badana solta como na lula mas deixo sempre o bico exposto.”

VAI UMA PICADINHA?

O trabalho estava feito e ainda faltava 1h30 para partirmos.

Fernando Hilário tinha de estar em Setúbal à hora de almoço e não nos podíamos descuidar com as horas.

Patacão perguntou se ainda queríamos gastar as cinco sardinhas e as cavalas numa pedra mais à terra, a pescar no baixinho, na casa dos 30 metros.

Não me fiz rogado, nem tão pouco esta rapaziada, sempre motivada para tirar mais uns peixinhos. A ideia era tentar a chumbadinha…

Chegados ao pesqueiro verificámos que a aguagem não corria certa e que o barco andava à roda, algo que não é muito favorável para esta técnica de pesca.

Mas foi gastar as iscas que tínhamos até à escama! Abri as hostilidades com uma dourada e de seguida decidi “dedicar-me à fotografia”, observando estes grandes pescadores e amigos que, enquanto houve isca foram tirando uns “peixinhos”.

Destaque para um sargo-veado de Hilário com cerca de 2,5kg e uma dourada e sargo-legítimo de Patacão. Como não havia uma aguagem favorável e não dava para fazer iscadas “à homem” foram-se enganando uns parguetes, fora os três safios que ainda se meteram a seco.

Todos concordaram que, com o sol já alto, aguagem a correr certinha — fosse a Norte ou a Sul— e com iscadas muito grandes se tinham feito mais uns peixes “daqueles” desmarcados. Mas fica para uma próxima ocasião.

Como Hilário referiu: “Foi uma bonita manhã de pesca”.

E o leitor não concorda?

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