Inchikus, Madais e Tenyas
Pescas lentas para peixes inactivos
Texto: Hugo Modesto
Fotos: AutorAos dias de hoje a ineficácia do tradicional jigging perante peixes inactivos está definitivamente comprovada, revelando-se muito desgastante fisicamente e desmotivadora para os praticantes.
Mas para tudo na vida há soluções…
Há uns anos a “febre” do jigging chegou à Península Ibérica, fazendo os pescadores que procuram troféus, sonhar com aquele grande peixe.
Passámos horas a ver vídeos de pescadores japoneses a animar violentamente zagaias a grande velocidade, recorrendo a material pesado. Animações que levavam a magníficas capturas quer de peixes de fundo, quer dos grandes pelágicos.
Anos mais tarde concluímos que a efectividade “desse” jigging é questionável em muitos dos nossos dias de pesca e que podemos praticar técnicas menos cansativas e muito mais efectivas quando o “antigo” jigging se revela esgotante, física e psicologicamente.
Contornar o problema
Quantos de nós, já tivemos perante uma marcação na nossa sonda de ecos fortes colados ao fundo e que passados muitos minutos e várias derivas por cima não obtemos nenhum toque nem se vêem perseguições aos nossos artificias.
Os cardumes de predadores têm muitas vezes comportamentos de inactividade durante grandes períodos do dia, ficando imóveis a pairar na coluna de água logo acima do fundo.
Nestas alturas será infrutífero a pesca com recurso a animações rápidas de zagaias tradicionais.
O mercado do jigging nos últimos tempos sofreu uma segmentação, havendo actualmente varias derivações do antigo jigging. Pescar recorrendo a animações mais lentas e com artificiais como Inchikus, Madais e Tenyas, podemos dar a volta ao problema e isso significa dias muito divertidos e prazerosos.
O material de light jigging e slow jigging são perfeitos para pescar com estas amostras.
Adaptação
No que diz respeito a material, estas técnicas permitem-nos “poupar” muito o corpo, permitindo baixar substancialmente a ação das nossas canas, tamanhos de carretos e consequentemente o peso dos conjuntos, os diâmetros tanto dos multifilamentos como dos baixos, podem também ser aligeirados; estamos agora com equipamentos mais light nas nossas mãos, sem que com isto se perca capacidade de combate, aumentado por outro lado o gozo que as capturas nestas condições nos proporcionam.
As animações passam a ser mais lentas e menos bruscas, tentando que os ataques não sejam desencadeados por representações de comportamentos naturais dos artificias, mas sim pelo desencadear de curiosidade que as formas estranhas e pouco prováveis na natureza que estes “bichos” possam causar, com comportamentos provocatórios e cores invulgares.
No caso dos Madais facultativamente e nos Tenyas a obrigatoriedade do uso de isco natural nos anzóis tornará “aquele” aproximar do predador por curiosidade, num ataque franco quando vê e sente o odor do isco natural.
No mar é importante ter um bom leque de opções para perceber o que querem os predadores num dia em concreto.
Anos mais tarde concluímos que a efectividade “desse” jigging é questionável em muitos dos nossos dias de pesca e que podemos praticar técnicas menos cansativas e muito mais efectivas.
Inchikus e Madais à lupa
Pescar com Inchikus pode revelar-se uma solução perante cenários como os que em cima descrevi. Este artificial não é mais do que uma “bala” de chumbo em que no meio tem uma fixação, onde se coloca um “polvinho” de vinil armado com dois anzóis no seu interior.
Actualmente já são bastante usados e com sucesso, mas houve tempos que estavam disponíveis no mercado e eram pouco utilizados,
tanto por cá como em Espanha ao contrário do que se passava em Itália. Um factor que em tempos foi argumento para estes artificiais serem menos usados foi os anzóis com que eram equipados, de dimensões reduzidas e fraca resistência, levava os mais teimosos a ter que alterar e mudá-los para maiores tamanhos.
A oferta que existe no mercado é enorme, tanto em cores como em formatos.
Existem marcas que fizeram as “balas” assimilar-se mais ao formato de pequenos peixes ou de corpos de cefalópodes, outros porém guardam o formato mais conservador da famosa “bala” japonesa. Os polvos evoluíram também nas cores e brilhos.
Podemos pescar desde profundidades de 30m até 120m, só teremos de adequar o seu peso em função da velocidade de deriva.
Os Madais destinam-se essencialmente a pescar mais junto ao fundo procurando os esparídeos, onde a natureza do fundo seja composta por menos pedra ou que esta seja mais rasa e onde existam zonas mistas de areia ou cascalho. Estas “criaturas” atípicas são normalmente cabeças de formas esféricas em chumbo colorido, com olhos dignos de filmes de extraterrestres; são montados com dois anzóis assistidos camuflados por uma infinidade de pequenos tentáculos de borrachas muito flexível.
Os anzóis podem ser iscados com pequenas porções de lula, choco ou até mesmo de filete de cavala, o que os torna mais efectivos levando mesmo a capturas de espécies pouco prováveis na pesca com artificias.
Estão disponíveis normalmente a partir de 40g até 120g o que nos permite pescar a várias profundidades conforme as condições de deriva. As animações para este tipo de artificial devem ser muito lentas, muitas vezes quase nulas da nossa parte; depois de os elevar do fundo cerca de um metro, podemos deixar sempre que possível a corrente fazer o resto, esta fará ondular livre e naturalmente as franjas de borracha. Se preferirmos, ou se notarmos que obtemos melhores resultados, as recuperações lineares lentas podem ser uma boa solução.
Aconselho neste caso que o artificial percorra mais metros junto ao fundo, isto é possível deixando “espiá-lo” mais, por outras palavras que a nossa linha em função da cana não esteja na perpendicular (ângulo 90º) mas que o ângulo entre a cana e a linha passe um pouco mais, entre 120º e 150º, assim em cada recuperação o Madai permanecerá durante mais tempo junto ao fundo, zona onde comprova a sua eficácia. Quando sentimos os primeiros toques devemos evitar ferrar imediatamente e aguentar até a ponteira da nossa cana fique arqueada e nesta altura sim, ferramos vigorosamente.
O formato do anzol que está agarrado ao chumbo indicia o tipo de isco a usar preferencialmente com a técnica: o camarão.
Tenya: aproximação híbrida
O Tenya é um verdadeiro artificial? Para mim não o considero, vejo-o como um híbrido que permite lastrar um isco natural morto ou mesmo vivo, fazendo com que estes cheguem rápida e precisamente ao fundo. A sua cor poderá ter um efeito de atração mas sem dúvida o isco é que será a razão do ataque, mostra a sua eficácia em zonas de beiradas onde termina a pedra e começa a areia ou lama.
Quando falamos de iscas vivas, o choco a lula e a cavala são os mais comuns. Se pela facilidade de adquirir recorrermos aos mortos então a gamba é rainha, mas sem desprezar a lula e choco inteiro ou em filetes.
Como animação, devemos deixá-los atingir o fundo, em seguida levantamos a cana e deixamos que a deslocação da embarcação faça com que o Tenya suba uma dezena de centímetros, depois abrimos o nosso carreto até atingir novamente o fundo, repetido algumas vezes este processo.
Os ataques acontecem na maioria das vezes aquando da queda esvoaçante. Temos de ter em conta três factores importantes, a saber o diâmetro das linhas, a deriva e o tamanho do isco, para que possamos fazer uma combinação que nos permita pescar com o mínimo de peso possível em condições que nos permita fazer a animação já descrita.
O facto de pescarmos mais ligeiro e recorrendo a técnicas menos divulgadas não será sinónimo de peixes pequenos, bem pelo contrário. Com estas técnicas aumentamos muito a capacidade de resposta a cenários de pouca actividade, tornando a pesca possível na mais variada tipologia de fundo e até mesmo aumentando o leque de espécies possíveis de capturar.
Originalmente a tenya nasceu para ser usada associada a um camarão.
É sem dúvida o isco mais utilizado nesta técnica não só pela facilidade de aquisição, mas também pelos resultados com ele obtido.
Episódio curioso
Recordo-me de há uns anos atrás, em mais uma saída de pesca com dois amigos, fazermos 20 milhas de navegação até chegar ao pesqueiro que dias antes tínhamos feito boas capturas. Passámos toda a manhã a fazer derivas por cima de uma marcação bastante
forte completamente indiferente aos nossos artificiais, mudámos de zagaias, reduzimos diâmetros dos baixos… e nada mudava! Lembro-me que em desespero de causa, e com bastante desconfiança dos meus companheiros, tirei da caixa um Madai que nunca tinha ido à água; após alguns minutos de puro gozo e comentários irónicos sobre o estranho bicho, surge o primeiro ataque que passado alguns minutos de luta se transforma num bom pargo-legítimo.
Nem eu mesmo queria acreditar e, enquanto voltava a posicionar a embarcação para mais uma passagem, o silêncio imperava a bordo. No final capturei mais dois peixes e no caminho de regresso fui eu que tive a oportunidade de brincar com eles e acreditem
que lhes dei cabo da cabeça, de tal maneira que dias depois todos tinham comprado os Madais, que até hoje estão sempre presentes nas nossas caixas.
Para mim, o segredo destas pescas é só unicamente acreditar no que estamos a fazer e dar-lhes algum “tempo de antena” em dias difíceis!