Arriscar nas Entradas

TEXTO: Sílvio Santos – José Luis Costa – Paulo Patacão – João Bernardo
IMAGENS: ARQUIVO e AUTORES

Sempre que se fundeia o barco num novo pesqueiro surge a dúvida: o que é que andará cá? Por isso mesmo muitos pescadores ficam indecisos em se deverão ou não arriscar numa iscada diferente, quer no isco quer no tamanho, para conseguir enganar o tal exemplar de qualidade que, como todos sabemos, ao fim de se aperceber do anormal movimento por cima da sua casa, tende a ficar mais desconfiado. Quisemos saber o que é que alguns pescadores de competição acham do tema e para o efeito colocámos-lhe três questões.

As perguntas que colocámos a estes quatro atletas são simples e podem ir bem mais além do âmbito competitivo. A pesca lúdica e a pesca de competição são diferentes mas, de acordo com o contexto, podem até haver algumas situações semelhantes e das quais podemos adoptar o mesmo tipo de postura.

E aqui ficam as três questões:

1 – Quando faz uma emposta na pesca aos diversos arrisca numa iscada diferente da que utilizará durante o decorrer da pesca?

2 – Se sim, que isco usa e como realiza a iscada?

3 – Acha que vale a pena arriscar nesta estratégia em competição?


JOÃO BERNARDO

1 – Quando faço uma emposta e começo num pesqueiro novo, a primeira vez que a pesca vai lá abaixo gosto sempre de fazer uma iscada um pouco maior.

2 – Quando faço uma iscada maior, mais atractiva a um peixe maior, posso fazer por duas razões, a primeira é quando chego ao pesqueiro gosto de fazer a iscada mais composta, para perceber que espécies lá estão, mas a segunda é quando quero procurar um peixe maior, o “tal exemplar”, isto é quan­do sei que aquele pesqueiro é um bom fundo para parguetes, bicas, sargos veados ou legítimos, douradas ou alguma espécie menos comum numa pesca aos diversos. Um cama­rão inteiro, só a cabeça, uma bomboca, batata, caranguejo, sardinha ou algum filete de cavala que tenhamos apanhado no momento. São boas opções. Quando isto acontece tenho de ter uma pesca com uns estraIhos maiores (cerca de 50 cm), um anzol um pouco mais robusto do que o que normalmente utilizo e uma linha que me dê maior segurança, no caso de entrar um bom exemplar. Com o auxílio da linha de iscar consegue-se elaborar uma iscada mais consistente e atractiva.

3 – Em termos de competição, quando existem alturas mais mortas de peixe, sendo elas algumas fases durante a prova, ou dias de prova com menos peixe, gosto sempre de arriscar em certa altura com cabeça ou um bom bocado de camarão. Por vezes surpreendemo-nos.

FILETE DE CAVALA

Os filetes de cavala fresca, acabada de apanhar são também excelentes para os pargos.

JOSÉ LUÍS COSTA

1 – Normalmente na pesca aos diversos uso uma iscada diferente no anzol debaixo, aqui no mar onde pesco coloco quase sempre um ralo ou um filete de cavala ou sardinha, neste último caso serve também como uma maneira de ir engodando o pesqueiro, mas isto não quer dizer que o faça sempre, pois se estamos por exemplo a apanhar besugos e eles estão a entrar bem numa determinada isca, mais vale não inventar e aproveitar o momento. Por outro lado temos também que ir lendo os indicadores que se vão apresentando perante nós; outro exemplo é quando o peixe está a comer bem e de repente fecham a boca, o que pode acontecer com a entrada no pesqueiro de predadores; neste caso aconselho até mudar para montagens mais grossas e iscadas maiores.

2 – A sardinha e cavala fresca apanhada no próprio pesqueiro são uma boa opção, podem ser iscadas feitas em filetes ou nacos; se o pesqueiro tem muitos “miúdos esfomeados” é melhor atar a isca com linha elástica. O conhecimento e leituras que vamos tirando dos diferentes pesqueiros ao longo do tempo é essencial para o sucesso de uma pescaria, saber posicionar e fundear no sítio mais conveniente como uma caída de pedra em vez de ficar encima do cabeço faz toda a diferença entre apanhar peixe diverso com tamanho bom do que garoupas e andorinhas.

3 – Na competição não se coloca bem essa situação. Neste momento temos a isca condicionada a amêijoa e camarão; muitas vezes temos é que saber gerir a quantidade de isca que vamos gastando para que dure as 5h de prova.


PAULO PATACÃO

1 – É quando chegamos a um novo pesqueiro que devemos tentar apanhar um bom exemplar, pois o pesqueiro ainda está virgem e é nesta altura que devemos fazer uma boa iscada de forma a chamar a atenção dos exemplares de maior porte.

2 – É claro que o tipo de iscada depende sempre dos iscos que tenhamos disponíveis a bordo, mas uma boa iscada de camarão, inteiro, de preferência bem iscadinho de forma a apresentar-se bem aos peixes pode sempre atrair um bom pargo ou uma boa bica. Um bom lingueirão a fazer uma boa “chucha” pode sempre resultar também num bom sargo. Uma lula inteira também pode dar bom resultado.

3 – Em competição estamos um pouco mais limitados a nível de iscos pois normalmente só temos dois disponíveis, a amêijoa branca e o camarão, o que não impede de efectuarmos uma boa iscada. O arriscar vai depender sempre da situação, se for um dia de muito peixe, na minha opinião, não compensa arriscar pois como se trata de provas a pontos não há necessidade de procurar um bom exemplar, no entanto em dias de pouco peixe já arrisco iscadas mais generosas pois podem fazer a diferença atraindo muitas vezes choupas, parguetes ou bicas que são bem pontuáveis.

Uma boa iscada de camarão, inteiro, de preferência bem iscadinho…

SÍLVIO SANTOS

1 – Normalmente não o faço, mas admito que as boas surpresas surgem mais vezes se arriscarmos. Uma iscada diferente aumentará a probabilidade de capturar peixes diferentes ou de maiores dimensões.

2 – Sem dúvida que existem pesqueiros onde por vezes se encontram exemplares de maior porte, e deverá ser nesses pesqueiros que fará mais sentido arriscar a tal iscada ou até a meu ver esquecer os diversos e fazer uma pesca especifica! Porque não variar e tentarmos fazer uma pesca de poucos mas bons? Pesca à chumbadinha, pesca em maiores profundidades, isco vivo, jigging são exemplos que nos podem trazer diferentes emoções. Naquelas alturas em que os dias de pesca não são mais do que um dia de sacrifício pois os diversos teimam em não aparecer, será uma boa oportunidade para arriscar em algo diferente, e aí o nosso conhecimento dos pesqueiros será uma boa ajuda nesse sentido.

3 – Em competição só será viável a meu ver se o peixe for muito pouco, porque caso contrário o mais certo é perdermos terreno em relação aos adversários. Como o sistema de pontuação na pesca embarcada não é por peso, o que mais interessa é a captura do maior número de exemplares e não de exemplares grandes que nos fazem perder tempo e não valem o seu peso em pontos. No entanto, em lazer, é sempre de tentar…








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