PARGO DOURADO

Texto: José Luis Costa
Fotos: Autor e Arquivo

O Dentão ou Pargo Dourado é muito desejado por todos os pescadores de alto mar, é um peixe astuto e desconfiado que não é fácil enganar, mas na Primavera temos vários pontos a nosso favor e uma grande oportunidade de conseguir o nosso “tal” peixe record.

Na Primavera muitas espécies entram na sua fase de reprodução e na maioria dos casos perdem parte da sua actividade predatória, mostrando pouco interesse em alimentar-se. O Dentão (Dentex Dentex) é um caso à parte, é nesta altura do ano, que pode ir de Março a meados de Junho, que começam a mudar o seu comportamento e que têm uma maior actividade. Ascendem procurando aguas mais rasas e concentram-se em grupos, delimitando um território. Gostam de aguas limpas e cristalinas para poder dominar um maior território, sempre por cima do termo-clima da coluna de agua, se esta subir por cima do seu território desaparecem do spot até o que o termo-clima volte a descer novamente. Chegado este momento, estes peixes aumentam a sua agressividade, atacando todos os possíveis intrusos que se aventurem na sua zona, mais que para se alimentarem, mas para se imporem.


Momento e lugar

O carácter desconfiado do Dentão é um dos factores que fazem com que a sua pesca seja tão especial. Nas primeiras e ultimas horas do dia os peixes andam descontraídos, sem pressão, movendo-se a menor profundidade, ao meio dia, os Dentões mostram o seu pico de agressividade, a não ser que estejam muito castigados pela presença de pescadores profissionais com as suas artes ou trafico marítimo mas, quem sabe não seja o melhor momento para os pescar que os messes de aguas frias?. Os melhores locais para procurar estes peixes são desde baixios de 20m até aos 150m passando por rochas planas com cabeços acentuados com comedia, pedra rija com cabeços acentuados, rodões isolados com cascalho… etc, zonas que estejam mais expostas as correntes de fundo também podem produzir efeitos. Um dos aspectos que o pescador deve considerar é a profundidade, para podermos localizar os principais spots, temos que ter um bom controle da nossa sonda, não só para podermos interpretar o tipo de fundo,  podermos também saber se o termo-clima está muito alto ou se existe corrente forte. Com a prática, podemos averiguar pela posição dos peixes em zonas com grandes desníveis e baixios.

Com isto tudo, até parece fácil fazer, mas depois na hora de fundear, se for esse o caso, é que são elas, e muitas vezes não ficamos onde queremos exactamente, isto por efeito de ventos ou correntes não previstas, para evitarmos um pouco esta situação, aconselho a parar o motor e aguardar… fazer um Jig 1º… por que não??; até vermos uma rota no GPS, com a mesma já sabemos mais aproximadamente de como irá ficar o nosso barco fundeado. Podemos também pesca à deriva, igualmente que no Jig, mas com iscas vivas como a lula, choco, cavalas, carapau etc, com esta técnica podemos “batar” mais terreno e como tal temos mais hipóteses de os encontrar. Outro método que dá bons resultados quando à pouca corrente é o corrico de fundo com uma chumbada a servir de lastro para afundar a nossa isca.


O equipamento…

O Dentão quando ferra dá normalmente uma forte arrancada quase sempre direito ao fundo para tentar se libertar do nosso anzol, fazendo golpes contra as pedras, corais, regos etc, fica capaz de levar tudo à frente, mas uma vez levantado do fundo, limita a sua luta a arranques curtos e cabeçadas bruscas. Se no primeiro momento não tivermos um material o suficiente robusto é muito provável que iremos perder o nosso exemplar, pois ao deixarmos que o peixe chegue ao fundo e quase sempre rompe a nossa linha.
Para tal, prefiro canas de 10 a 20L com uma boa acção e um pouco maiores que as canas de corrico tradicionais, de forma a que não seja demasiado rija, mas suficientemente macia para amortecer com suavidade as investidas e cabeçadas destes peixes que podem ir até aos 12 e mais kilos. O carrete a eleger depende da preferência do pescador, de bobine fixa ou tambor, desde que tenham uma boa potencia de recuperação e capacidade de linha para pelo menos 250m de 30-50L. Eu prefiro utilizar o multifilamento porque corta melhor a corrente e evita que a nossa linha crie uma grande barriga, aumentando assim também uma maior sensibilidade e contacto mais directo com o peixe, facilitando assim o momento de ferragem.

Com este tipo de linhas é normal e aconselho utilizar um chicote forte em fluorocarbono de no mínimo 0.50 a 070mm com uns 10 a 15m que serve de amortecedor na hora do combate. È melhor evitar usar chicotes mais fracos para não perdermos parte das nossas picadas por rotura da nossa linha. A sua velocidade para chegar ao fundo é vertiginante e alucinogéna, e muitas vezes só se sente o primeiro arranque, partindo tudo logo de seguida.


Inspeccionar o material

Ao compramos material para este tipo de pesca devemos prestar especial atenção à sua resistência, assim, numa zagaia ou amostra devemos ver se as anilhas que ligam a zagaia ao anzol são o suficiente fortes para resistir ao combate que esperamos sem que aja uma ruptura ou que abram, com os anzóis fazemos o mesmo e evitamos os mais finos, 3/0 até aos 8/0, mas isto tudo depende da marca dos mesmos. Ao fazermos os nossos estralhos devemos sempre confirmar a sua resistência. Se desconfiamos que um estralho já foi à agua uma vez e não está a 100%, o melhor é refazer tudo outra vez com cabo ou linhas novas, não podemos dar abébias a estes meninos, pois os poucos toques que temos, têm que ter algumas garantias que sejamos nós a ganhar.

Os Iscos

Com respeito aos iscos, podemos utilizar tanto naturais como artificiais. Uma isca viva, como uma lula ou choco, é o melhor que podemos apresentar a estes autênticos gourmets dos mares, não é uma isca fácil de se obter viva e de saber conservar, muitas vezes um pouco difícil de o fazer, pois nem todos os pescadores têm um viveiro para manter as nossas meninas/os em boa forma física.

Montar nas nossas pescas de forma a que nadem bem e não morram lá no fundo é outro tipo de situação que infelizmente nem todos os pescadores o sabem fazer correctamente. Nas amostras artificiais, as de 11 a 18cm são uma boa medida e deste modo vamos evitar o ataque dos exemplares mais pequenos e outros peixes não desejados. Uma boa imitação para a primavera é a da lula, pois é a altura que elas vem mais para terra desovar e são o alimento preferencial dos Dentões. As amostras tipo Rapala Magum do modelo Floating com pala de plástico, também servem, porque não afundam mais que a chumbada e assim evitamos alguns ferranços nas pedras, redes, cabos, etc que existem nos nossos mares. Eu prefiro as tradicionais zagaias e diferentes tipos de jigs que vão aparecendo no mercado; não sei o que eles irão inventar mais… e a escolha muitas vezes pode ser um pouco confusa, nunca sabemos se eles irão gostar mais daquela cor ou aquele formato diferente.


O Dentão quando ferra dá normalmente uma forte arrancada quase sempre direito ao fundo para tentar se libertar do nosso anzol.


Dica

É muito útil marcarmos rotas pré programadas da zona que vamos pescar, assim podemos ir tirando pontos mais quentes com tranquilidade, fazendo ajustes nas derivas e tendo a certeza que passamos no ponto desejado, quando temos uma picada convém marcar esse ponto para podermos passar novamente pelo mesmo local. É bastante frequente termos mais que um peixe na mesma zona, mas se não tivermos marcado a posição da captura será mais complicado repetir a passagem correctamente sobre o mesmo local e um desvio da zona pode fazer com que não tenhamos uma nova picada. Até lá temos que ter sempre uma boa dose de paciência e nunca perder a esperança em ferrar uns peixes destes, temos acima de tudo é que ir sempre tentando e não desistir, um dia acontece… 😉







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