
Texto: Filipe Cintra
Fotos: Autor e Arquivo


Isaac Newton, famoso investigador inglês dos sécs. XVII e XVIII, concluiu um dia que entre dois corpos materiais existe uma força de atracção mútua, ou seja, que dois corpos se atraem entre si. A essa força deu-lhe um simples nome: gravidade.
Newton concluía que todos os corpos se influenciavam entre si, uns mais e outros menos, mas todos tinham o seu papel; e que, quanto maior fosse a sua massa, maior o seu poder de atracção em relação a outros.
Ora as marés não são mais do que um reflexo da gravidade existente no Universo e da influência mútua exercida entre planetas, satélites, estrelas e outros corpos.
Factores determinantes
Assim sendo, o planeta Terra está perante e sob influência de dois grandes corpos com campos gravitacionais, o sol e a lua. Ora, como a intensidade de um campo gravitacional é inversamente proporcional à distância, então cada ponto da superfície terrestre está sujeito a uma intensidade gravítica diferente. Assim, concluímos que esta influência tem intensidades significativamente diferentes entre os pontos mais próximos e mais distantes da superfície terrestre em relação aos corpos influenciadores.
Vejamos primeiramente o efeito da lua. As massas de água oceânicas que mais próximas da lua estão, em cada momento, sofrem uma aceleração de intensidade bastante superior às massas de água oceânicas que se encontram do outro lado do nosso planeta. É, portanto, esta diferença que provoca as alterações que verificamos no nível da altura dessas mesmas massas de água à superfície da Terra.
Os fenómenos
Agora que sabemos por que existem marés, vamos entender outros pontos. Todos sabemos o que é a preia-mar (preamar) e a baixa-mar; mas, afinal, por que variam as amplitudes? Tem a ver com a fase da lua, muito bem, mas as fases não têm correspondência directa com o alinhamento entre Terra, lua e sol? Têm, claro que têm. Então podemos dizer que nas fases de lua cheia e lua nova, a acção gravitacional do sol está em concordância gravitacional com a lua, ou seja, os campos gravitacionais do sol têm a mesma direcção da lua, o que provoca marés mais altas e mais baixas em relação ao nível médio.

Quando o sol e a lua estão completamente alinhados, então dá-se ainda outro fenómeno, que é chamada maré de Sizígia, mais conhecida como maré viva. Isto acontece porque ambas as acções gravitacionais, do sol e da lua, se somam, não havendo nenhuma que se anule. Observando a Figura 1, fica tudo mais explícito. Nas fases de quarto minguante e quarto crescente, temos o caso contrário, o sol está em discordância gravitacional com a lua, ou seja, a acção gravitacional do sol e a da lua estão em direcções diferentes, sendo que as forças do sol anulam parte das forças da lua. Daí as amplitudes de marés serem sempre mais baixas do que as anteriores.
Existe ainda um fenómeno que ocorre no primeiro dia após uma fase de quarto crescente ou quarto minguante, e que é apelidado de maré de quadratura. Esta maré ganha relevância porque é a altura em que se verifica a menor amplitude de maré e isso deve-se ao facto de o sol e a lua formarem um ângulo de 90º em relação ao planeta que habitamos.
Momento de uma maré vazia.
A órbita da lua produz este fenómeno cíclico, a intervalos de cerca de 12 horas.
Nas fases de lua cheia e lua nova, os campos gravitacionais do sol têm a mesma direcção dos da lua, o que provoca marés mais altas e mais baixas em relação ao nível médio
As marés e a escolha dos nossos pesqueiros
Esta importante opção resulta da conjugação de vários factores, e o estado da maré é sem dúvida um desses factores. Excelentes pesqueiros na enchente podem ser péssimos na vazante e vice-versa.
A escolha de pesqueiros em locais mar-dentro, como as pontas de pedra, os lajões, os braços de terra ou outros mais recuados, como baías ou recantos, tem, ou deve ter, como base o estado da maré.
Nos pesqueiros de costa, podemos ter como base a seguinte escolha: Quanto mais água houver, ou seja, quanto mais cheia estiver a maré, mais recuado posso pescar. Mas não se esqueça: como em tudo na pesca, não existem regras absolutas, apenas ideias base. Por exemplo, para quem pesca num dado molhe ou pontão, é natural fazer-se boas pescas no início dessa estrutura aquando da maré cheia, o mesmo não se verificando na baixa-mar. Ao invés, na ponta desse mesmo molhe pode ser naturalíssimo realizar-se boas fainas com a maré escorrida e estas fraquejarem quando a maré se encontra mais rija (leia-se cheia).
Pense como o peixe: um peixe só pode ir onde existe água; logo, com a maré cheia, pode alimentar-se em locais onde, com a maré vazia, estaria de papo para o ar.

Conclusão
Já vimos que as marés são devidas aos campos gravitacionais, e que a lua é a principal influenciadora, sem nunca nos esquecermos do sol.
Mas então, porque será que as marés são de doze em doze horas, aproximadamente? Podemos dizer que marés se repetem a cada doze horas e vinte e quatro minutos devido aos movimentos de rotação da Terra e da lua e à órbita lunar, que compõem essa quantidade de tempo.
Agora que já sabe (se é que já não sabia) os porquês das marés, está à espera do quê? Não é hoje que a maré é ideal para aquele pesqueiro especial?