Texto: Paulo Patacão
Fotos: Autor e ArquivoColaboração: José Luis Costa e Luis Ceia
Muitos se queixam porque querem um peixe maior. No entanto há que procurar a sorte para tentar um exemplar digno da nossa geleira… É sobre isso mesmo que Paulo Patacão nos irá falar neste artigo, o qual é um apelo à paciência do pescador e há sua capacidade em ver os colegas encherem uma geleira de diversos enquanto se espera por “aquele” peixe!
Ser selectivo pode ser extremamente compensatório e é quando pomos em pratica este tipo de pesca que podemos apanhar os melhores exemplares.
Bicas, pargos e parguetes, saimas, sargos e umas boas douradas, ou seja, peixes de qualidade superior são a compensação nesta prática.
Mas há que salientar que nem tudo são alegrias ou vitórias pois é aqui que também temos as maiores derrotas; mas com paciência e persistência conseguimos aquele dia que tanto esperamos ou aquele exemplar.
Neste tipo de prática é muito importante ter em conta o tipo de montagens a utilizar, os iscos mais adequados, o modo de iscar e essencialmente a capacidade de resistir à tentação de voltar ao “picapica” e encher uma geleira de peixe mais miúdo, ao invés de levar menos exemplares mas de qualidade bastante superior.
A postura
Esta é a parte mais difícil, saber esperar, ser paciente e persistente, aguentar o tempo suficiente até sentirmos o tal toque, enquanto os nossos colegas estão a apanhar diversos de seguida. Quem já não esteve, todo o dia, numa embarcação a pescar aos diversos e eis que surge um bom exemplar e todos os outros peixes até ai pescados ficam esquecidos e a conversa, na embarcação, passa a girar em torno desse peixe. É então que nos apercebemos que toda a paciência, espera e persistência é recompensada.
São peixes como estes que nos deixam felizes e que valem a pena o risco.
As montagens
As montagens são uma peça fundamental neste tipo de pesca. Para podermos apanhar um peixe digno de fotografia temos de fazer diferente dos nossos colegas de embarcação de forma a podermos chamar a atenção destes peixes.
Neste caso os estralhos deveram ser de comprimento superior ao normal para que a isca se mostre ao peixe de
uma forma o mais natural possível, então há que esquecer a tradicional pesca com três estralhos e utilizar pescas com apenas dois estralhos entre os 50 e 80 em de comprimento ou por vezes até utilizar um só único estralho ainda maior.
Os anzóis a utilizar devem ser entre o nº1 e o 3/0 do tipo chinu com um bom bico para facilitar a ferragem. Os fios devem ser de fluorocarbono de boa qualidade e aqui podemos ter espessuras mais elevadas entre o 0,30 e 0,40 milímetros, podendo por vezes engrossar-se um pouco mais.
O recurso à chumbadinha é uma solução caso a água esteja a correr, pois é uma boa forma de levar a isca ao encontro do exemplar pretendido. É um pouco como pescar à rola, desta feita com o barco fundeado.
Os iscos
A escolha dos iscos é muito importante, aqui a variedade vai marcar a diferença para conseguirmos o nosso objectivo.
O recurso a iscos que normalmente não utilizamos, como o caranguejo rijo, o caranguejo mole ou de dois cascos, lulas, preferencialmente as pequenas, raios de polvo, sardinha e a sempre útil cavala que pescamos na hora e utilizamos para fazer de isco, são opções a ter em conta, usando obviamente boas carnadas e um anzol a condizer. Se o anzol continuar a ser pequeno vai ser prejudicial; primeiro porque não se consegue fazer uma iscada grande que se aguente bem e segundo porque o peixe pequeno vai “ratar” tanto que se acaba por ferrar. Com um anzol maior isso não acontecerá tão frequentemente.
À HOMEM!!!
A melhor maneira de atrair um bom exemplar é utilizar iscadas maiores, ou umas boas “chuchas” como gostamos de chamar; caranguejos inteiros com a casca ligeiramente esborrachada, lulas inteiras, bons beliscos de sardinha e cavala, sardinha ou cavala escalada com um bom anzol cozido dentro. Tudo isto é uma boa maneira de atrair as douradas no caso dos caranguejos e os pargos no restante.
OPINIÃO AVALIZADA…
Luis Ceia é um nome incontornável na pesca embarcada. A reputação deste algarvio foi ganha muito à custa de “perseguir” recordes, usando para o efeito linhas que a maior parte dos pescadores nunca ousariam utilizar, dada a fina espessura das mesmas. Ninguém mais do que este homem sabe o significado de ser selectivo e quisemos saber de sua justiça qual a sua forma de “escolher o peixe”.
Luis Ceia – Quanto a estas coisas da selectividade convém dizer antes de mais que ninguém consegue ser selectivo em sítios onde não há peixe. É preciso saber onde moram, onde é que os há. Partindo do princípio que estamos num bom pesqueiro, existem duas “armas” que temos ao nosso dispor para enganar os maiores exemplares e, portanto, sermos selectivos: falo do anzol e da isca. Se quisermos capturar peixes como as corvinas, os pargos ou os robalos, nada melhor do que usar isca viva, tal como a cavala, o carapau, lula ou choco, tudo com anzóis a condizer, isto é, grandes.
No entanto, e para os que não são adeptos desta técnica, e preferem a convencional pesca com isca dita “morta”, as soluções continuam a ser as mesmas: anzol e isca é que vão fazer a diferença. O pescador deve ser suficientemente inteligente para perceber que só usando anzóis maiores e iscadas condizentes é que evita o peixe miúdo e sem medida, pois não têm boca para isso … só gula.
Se é unânime que os anzóis devem ser maiores para comportar a iscada, já não se poderá dizer que hajam iscos milagrosos. O que se deve sim, é apostar em iscos mais duros ou com casca e/ou em iscadas maiores. Passo a enumerar alguns dos que mais se usam e como podem ser usados para escolher o peixe. O choco é sempre um isco bom devido à sua consistência, o peixe mais pequeno anda lá de volta mas não estraga a iscada. A sardinha é um bom isco para tudo embora também atraia tudo! Isso pode ser bom e mau ao mesmo tempo. O que há a fazer é usar filetes grandes ou cortada aos pedaços, com espinha e tudo, mas isso não invalida que o peixe miúdo invista, chegando ao ponto de comerem a carne e deixarem a espinha apenas (o que se chama “comer de faca e garfo”). Mas nestas coisas também é bom que haja peixe pequeno pois como diz o ditado “peixe chama peixe” e por vezes atrás andam sempre uns grandes. Outro isco universal nas lides da pesca embarcada é o camarão. O princípio é o mesmo que sigo e que é iscar em função de um anzol maior e portanto os beliscas passam a ser bem maiores, chegando a pontos onde deixo inclusivamente a casca para aguentarem um pouco mais e não ficar com o anzol limpo. É um isco sui generis e podemos até iscá-Io inteiro e com cabeça; o detalhe é que o anzol tem de vir até um pouco antes da barriga; não precisa de ser uma cavilha enorme.
Por fim dou o exemplo de Quarteira, local onde existem umas choupas monstruosas mas onde também abunda muito peixe abaixo da medida. O que fazer? Se disse usar um anzol maior está certíssimo e posso dizer que nem é preciso que a iscada seja necessariamente maior. Nisto de apanhar peixe maior é só usar a cabeça e ser paciente.
Esta é a parte difícil, saber esperar, ser paciente e persistente, aguentar o tempo suficiente até sentirmos o tal toque, enquanto os colegas estão a apanhar diversos de seguida.
O toque
A atenção deve ser redobrada. Saber distinguir os toques é fundamental, pois só assim conseguimos ferrar o peixe pretendido. Basta ter presente os toques das douradas grandes, tão imperceptíveis e discretos que nem damos por eles na maior parte das vezes.
Como será normal vamos estar a sentir os peixes mais pequenos a comer a nossa iscada de tamanho considerável, os toques vão ser sucessivos e a isca vai acabar por desaparecer completamente, até que acabará por surgir aquele toque mais forte ou mais matreiro que nós faz levantar a cana e ferrar o tão desejado peixe. Regra geral, e em dias de muito peixe miúdo, quando um peixe grande entra à nossa isca faz com que os toques de peixe pequeno não se sintam.
OPINIÃO SOBRE OS TOQUES…
José Luis Costa – Quando vamos tentar uns exemplares de qualidade temos que estar sempre muito atentos aos “toques” que sentimos, posso aqui nomear dois tipos distintos: os francos e “brutos” e os “outros”… O que quero dizer com isto? Que os francos, na maioria das vezes não dão hipóteses, comem tudo numa só investida seca e ficam ferrados, atenção que neste caso se não tivermos o drag do nosso carreto bem regulado podemos só sentir a 1ª investida e rebentam o nosso estralho, tal é a gula com que entram na nossa iscada; os “outros” são aqueles que nós temos que redobrar a nossa atenção e tentar distingui-los entre um peixe de bom tamanho e os “indesejáveis”, estes toques muitas vezes podem ser muito subtis e facilmente passam por peixes pequenos, muitas vezes os exemplares de bom tamanho “provam” 1º a isca, engolem, saboreiam e voltam a cuspir a iscada, outras vezes no meio dos toques de peixe miúdo surgem de vez enquando toques que são ligeiramente diferentes, nesta situação temos que redobrar a atenção e tentar ferrar o nosso exemplar nesta alternância de toques.
“Existem duas “armas” que temos ao nosso dispor para enganar os maiores exemplares e, portanto, sermos seletivos: falo do anzol e da isca.”
Outono/Inverno
Estamos na época ideal para a procura dos melhores exemplares.
É nesta altura do ano que podemos pescar mais junto da costa e apanhar algumas espécies mais costeiras, os peixes ficam mais vorazes e começam a sair das suas tocas para se alimentarem. Tudo isto provocado pelos mares mais revoltos e por conseguinte a movimentação dos fundos levanta bastante alimento.
É no inverno que conseguimos capturar um belo sargo legítimo ou umas boas choupas, pois é a altura em que estes comem como nunca, o mesmo se aplica às douradas. No entanto há outras espécies que começam a ser mais escassas, tais como as bicas.
O relato
Numa das minhas diversas saídas a bordo da minha embarcação posso salientar um dia que me ficou na memória.
Lá para meados de Novembro, época em que já se pensa em douradas, lá fui com o meu habitual companheiro de pesca para mais uma jornada e a bordo vários iscos, como bomboca, lingueirão, lulas e caranguejo. Chegados ao local, sonda a funcionar, fundo na ordem dos 90 metros e eis que marcava uns peixes: ferro ao fundo, pescas para a água e os primeiros peixes começaram a sair; uns besugos de bom tamanho, umas sarguetas misturadas, e lá se foi passando dia. Passado algum tempo digo para o meu companheiro, “vou mudar de pesca para ver se apanho uns bons exemplares”; retiro a pesca tradicional e monto uma com dois anzóis, com estralhos maiores e anzóis de boa dimensão, isco com caranguejo e lula e lá fui tentar o meu feeling. Os toques foram surgindo e o isco foi desaparecendo, mais umas insistências, até que ferro uma choupa de bom tamanho, como já não via há algum tempo.
Como estava a resultar fui continuando, o meu colega também aproveitou e fez as suas mudanças e lá foram entrando bons exemplares, sargos de bom tamanho, alguns parguetes até que surge a primeira dourada com mais de 2kg, o dia estava animado. Outras douradas foram entrando no barco, surgiu um pargo com mais de 3kg e no final do dia contabilizámos 12 douradas e um bom pargo, tudo de bom tamanho. Afinal a espera e a persistência sempre podem ser compensatórios. <.>