SARGOS de Barco




Texto: Filipe Cintra

Fotos: Autor e Arquivo

Para nós pescadores, ler ou ouvir as palavras Diplodus sargus sargus, sargo-legítmo ou até simplesmente sargo é sinonimo de prestar atenção! Isto porquê? Porque, quem gosta realmente da pesca de mar, tem neste ser da família dos esparídeos, um grande opositor.

O sargo é provavelmente a espécie mais capturada pelo pescador comum, mas capturarmos aquele exemplar de encher o olho, é necessário um pouco mais que uma simples linha, um simples anzol e uma simples minhoca. Esta é uma espécie tipicamente costeira, é um peixe com um tamanho máximo a rondar os 50cm e que não gosta muito de profundidades acentuadas daí não ser muito habitual encontrá-los a cotas abaixo dos 30-40 metros de profundidade.

O sargo-legítimo com sua forma ovalada típica dos esparídeos, tem uma coloração, normalmente, prateada com algumas listas verticais negras, normalmente nove, mas é possível e natural encontrá-los com outras colorações. Estes podem ser totalmente prateados, onde mal se notam as listas, isto acontece quando a sua vivência é maioritariamente em locais arenosos e de baixa profundidade onde a exposição solar é uma constante. Ao invés desta coloração, podem também adquirir tonalidades totalmente negras, o que demonstra que são peixes que vivem sobretudo emburacados e que só saem para comer quando o sol já dorme. Sargos negros são normalmente sinónimo de sargos velhos e sabidos.








Hábitos e alimentação

Como é um peixe que vive essencialmente em cardumes, a sua característica hermafrodita permite-lhe mudar de sexo conforme as necessidades da comunidade onde se insere e assim assegurar o equilíbrio total de espécies de ambos os sexos num dado cardume. Esta “estratégia” permite a esta espécie ser uma das mais bem sucedidas no campo da reprodução. A sua alimentação baseia-se sobretudo nos crustáceos (percebes, caranguejos, ouriços, etc), nos bivalves (mexilhão, berbigão, lapas, amêijoa, etc), nos anelídeos (diversos tipos de minhocas) e ainda em restos de outros peixes, como a sardinha ou a cavala. É por vezes normal encontrar no seu sistema digestivo restos de algas.

Como pescá-los?

Conhecido então o sargo e seus hábitos, vamos então ao que interessa, como capturá-los. Quando falamos de sargos neste artigo, referimo-nos àqueles que têm os lábios grossos, os dentes negros e em que as riscas negras anteriormente faladas já desapareceram à muito. Na pesca em embarcação fundeada este peixe raramente é o nosso alvo e porquê? Porque a sua captura exige uma especificidade muito própria. Para pescarmos aos sargos-legítimos é preciso ter muita paciência. É preciso conhecer bem os fundos por onde navegamos, saber se possuem refúgios, comida, se possuem “vida” para os atrair e fazer com que permaneçam no local eleito como pesqueiro. Nunca esquecer que falamos de uma espécie que vive ciclos sedentários.

Poucos peixes devem ter uma relação peso potência como o sargo.
As suas investidas para o fundo são incríveis!

Sardinha, a rainha

Para esta pesca usa-se essencialmente a sardinha e camarão, iscos que estão ao alcance de todos nós. Depois podemos usar também outros iscos como o mexilhão, o lingueirão, enfim, todos aqueles que entram na sua cadeia alimentar, mas a sardinha deve mandar. Esta deverá ser fresca e gorda se possível tal como noutros tipos de pesca.
Deverá ser salgada uma hora antes da sua utilização de forma a ficar um pouco mais rija, e deverá ser escamada. Depois, deve imperar na primeira e segunda hora de pesca, de forma a trazer até às nossas pescas tão desejados peixes, ou seja, pescamos e engodamos o pesqueiro.
Esta engodagem é feita de duas maneiras, primeiramente pelo próprio cheiro activo que a sardinha liberta mas sobretudo pelo morder das espécies mais pequenas que vão desfazendo a sardinha em bocadinhos minúsculos que se vão espalhando ao sabor da aguagem. Toda a sardinha que não se usa no momento deverá estar bem guardada para que não seque.
A sardinha seca não presta para pescar, pois perde os índices de humidade.
Sendo o sargo velho um peixe muito desconfiado, há que tentar reduzir todos os efeitos que o façam desconfiar. Depois e não menos importante, as iscadas devem inicialmente ser das mais variadas formas, desta maneira vai tentar descobrir-se de que forma o peixe come melhor em certas de determinadas situações/condições podemos iscar beliscos, lombos/filetes com e sem pele, a tripa, nacos/troços com e sem espinha, etc.
As formas de iscar podem ser várias mas todas elas devem obedecer a uma última regra básica, não ter escamas! Esta engodagem tem o inconveniente de atrair espécies indesejáveis, mas não esquecer, se estes foram atraídos pelo cheiro, então mais tarde ou mais cedo os sargos também serão.









A sardinha deverá ser salgada uma hora antes da sua utilização de forma a ficar um pouco mais rija, e deverá ser sempre escamada.

Camarão: a segunda opção…

Quanto ao camarão, outro isco adorado pelo sargo, só será iscado quando detectarmos a presença desta espécie e convém se iscado inteiro e com casca. Podemos passar o anzol pelo camarão, entrando na cauda e saindo no meio da cabeça ou então, iscado só pela cauda. A segunda hipótese já requer algum conhecimento do pescador para distinguir cada picada que sente. Outro pormenor muito importante neste tipo de pesca: não tente fazer a ferragem ao primeiro toque, nem ao segundo… muitas vezes nem ao terceiro. Como já se disse anteriormente, estes peixes são super desconfiados, deixe-os comer à vontade, deixe-o ganhar confiança em relação ao que come, só depois sim, toca a trabalhá-lo e puxá-lo para cima.

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