Pesca à Tacada

Texto: Fernando Hilário
Fotos: Autor e Arquivo

Introdução

A pesca nos estuários dos rios pode ser bem diferente da que nós estamos habituados, pois as correntes ai existentes fazem com que os nossos aparelhos de pescas normais se tornem ineficazes ou mesmo inúteis.

È aqui que entra em acção uma pesca muito particular que para os lados de Setubal lhe chamam “Pesca da Tacada”; em tudo muito semelhante ao que nós aqui por o Algarve chamamos “pesca com rabeira” praticada na Ria Formosa; estive à conversa com o meu amigo e campeão Fernando Hilário o qual é um adepto desta modalidade na foz do Sado e não se importou de partilhar os seus conhecimentos nesta modalidade com os leitores do nosso site, deixo-vos então aqui um resumo da nossa conversa.

PE- Porquê esta forma de pescar no rio e quais as suas vantagens?

FH- Esta forma de pescar surge da necessidade de “assentar” as nossas pescas no fundo de forma a que trabalhem corretamente na grande corrente existente, fixamos a pesca com chumbos de 1.5 a 2Kg no pesqueiro que escolhemos e desconfiamos que seja frequentado por peixes bons … “daqueles que nós gostamos!!!”; assim aproveitamos a própria corrente para que o nosso “aparelho” esteja perfeitamente esticado e a “trabalhar” corretamente as nossas iscas, aparelho este que é um rabeira comprida com 3 estralhos no fim.

PE- Como é composto o “aparelho da tacada”?

FH- A tacada, como já referi anteriormente é uma rabeira comprida de 0.50mm com cerca de seis a sete braças (+- 12m) na qual se aplica no fim 3 estralhos de 0.35mm com +-50cm com anzóis tipo Chinu entre os números 1 e 3, é ligada a uma chumbada ou peso entre o 1.5 a 2kg, este peso pode ser variado conforme a corrente e profundidade a que vamos pescar, o qual vai ser ligado a um cabo fino que por sua vez se prende na popa de um dos lados do barco, eu pesco com duas tacadas ao mesmo tempo uma de cada lado. Um pormenor importante é termos um destorcedor forte e de qualidade entre a ligação do cabo e a chumbada assim como na ligação da rabeira, …

… no primeiro estralho aplicamos também um destorcedor de alfinete no qual aplicamos uma chumbadinha de 20gr, a função desta é permitir uma melhor apresentação das nossas iscas junto ao fundo, para alem disso ajuda bastante a manter a nossa rabeira esticada e evita ao mesmo tempo alguns enleios que podem aparecer, o segundo e terceiro estralho são ligados através de destorcedores triplos distanciados um do outro de maneira a que os anzóis não se toquem, junto envio um esquema o qual espero que fiquem melhor elucidados.

PE- E depois… como se desenrola a pesca?

FH- E depois… Temos que esperar e ter muita paciência, não precisamos ter a nossa pesca na mão pois a sensibilidade é quase nula com a corrente forte e o peso pesado que temos assente no fundo. Esta pesca é uma pesca que nós chamamos de “paciência” e nem todos os pescadores gostam dela por razões obvias, mas que quando praticada com sucesso trás enormes alegrias. É uma pesca que dá algum trabalho, pois levantar 2kg com corrente e às vezes peixes maiores não é tarefa fácil; a cada 10 a 15 minutos puxo uma rabeira de cada vez para inspecionar as iscadas e se está lá algum peixe, só quando levantamos o peso do fundo é que normalmente nos apercebemos se temos peixe ou não.

PE- Quais as espécies alvo desta técnica?

FH- Normalmente esta técnica permite pescar aqueles peixes mais maduros e difíceis de enganar, tenho capturado Sargos “fumadores”, Douradas Grandes e em alturas de “sorte” uns parguetes e sêmeas.

PE- Quais as iscas mais produtivas nesta pesca?

FH- Aqui no rio Sado as iscas mais utilizadas são sem duvida nenhuma a bomboca, a isca da moda “batata”, lingueirão e o camarão.

PE- Tens algum “truque” para saber qual a ementa que os “nossos amigos” preferem?

FH- Sim, começo a iscar com diferentes iscas nos anzóis e vou vendo o que eles estão a pegar mais, nem todos os dias  eles preferem um isco especifico, depois é só insistir na isca que “eles” querem mais e ter fé.

PE- Como se pesca com uma “Tacada”?

FH- Começamos por desenrolar o cabo da “Tacada” dentro do barco que deverá ter mais umas duas ou três braças que a profundidade a que vamos pescar, a seguir desenrola-se a rabeira que por sua vez vai ser ligada à chumbada; finalmente começasse a iscar o primeiro anzol o qual se coloca logo na água pela popa de um dos lados do barco e a assim sucessivamente até termos a rabeira iscada e toda esticada na água, este procedimento é para evitar enleios, uma vez que a nossa rabeira esteja esticada na corrente basta lançar o nosso peso uns 4 a 5m para fora do barco num dos bordos de maneira a que possamos pescar com duas “Tacadas” ao mesmo tempo atadas na popa evitando que as mesmas não se enrolem uma na outra e ensarilhem tudo.

PE- Quais as condições ideais (se é que as há…) para praticar esta pesca?

FH- Para mim, a melhor altura para pesca à “Tacada” é na vazante com marés vivas de muita corrente, permitindo que a rabeira fique bem esticada para jusante, isto claro com o barco fundeado sobre o pesqueiro de eleição.

PE- Conclusão a que tenhas chegado com a experiência?

FH- Sim, uma coisa é certa, quanto maior for a corrente maiores têm sido as capturas e o anzol mais pesqueiro normalmente é sempre o que está mais distante da chumbadinha.

PE- Alguma nota final?

FH- Queria agradecer ao site do Pesca-embarcada.com e ao meu amigo José Luis Costa a oportunidade e o prazer em divulgar este tipo de pesca desconhecida na maioria do pescadores nacionais, é sempre bom partilhar novos conhecimentos.

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