Sargos Gigante na Pesca Embarcada

Texto: GIBELINO ENCARNAÇÃO
Fotos: Autor e Arquivo

De facto, na família dos sargos encontramos dois  grandes favoritos da pesca lúdica: o sargo legítimo e o sargo veado.
E é deles que vamos tratar no presente artigo, na modalidade de pesca embarcada, porventura a modalidade mais desconhecida e menos praticada na captura destas espécies.

Os sargos

Na família dos sargos, o  legítimo e o sargo veado são as espécies que maiores tamanhos atingem (a par do sargo bicudo), sendo certo, contudo, que as capturas de grandes exemplares acima dos dois quilos para o primeiro e dos quatro quilos para o segundo são cada vez mais raras, em grande parte devido à grande pressão da pesca comercial que tem vindo a diminuir significativamente os stocks e, por outro lado, à dificuldade inerente à captura destas espécies, uma vez se tratam de peixes muito desconfiados a tomar os iscos.

O sargo legítimo tem hábitos mais costeiros, aproximando-se muitas vezes de terra na procura de comida, em fundos insuspeitáveis que muitas vezes atingem menos de dois metros de água, em especial, durante a noite ou nos dias em que as condições lhe permitem uma maior “camuflagem”, ou seja, com águas mexidas e tapadas, o que na costa Algarvia acontece com frequência na presença de ventos do quadrante leste, especialmente, com ventos de este e sueste.

Por outro lado, o sargo legítimo prefere frequentemente habitates de pouca ou média profundidade, com fundos entre os dez a vinte e cinco metros, procurando as chamadas “pedras de terra”, ou seja, pedras relativamente próximas da costa em que passam o dia maioritariamente entocados, saindo ao anoitecer para procurar comida nas águas pouco profundas junto a terra, onde deambulam ao longo da costa.

Os sargos veados preferem águas de maior profundidade, normalmente a partir dos vinte metros, alojando-se em zonas de pedra forte, com grandes buracos ou fendas onde se possam proteger, especialmente se foram circundadas por cascalho ou lodo com “ramos” (estruturas  de corais) e formam pequenos grupos de indivíduos dispersos por essas mesmas zonas.

Na pesca fundeada, quando há uma procura específica  destas espécies, é frequente encontrarmos pesqueiros em que os sargos legítimos e os  veados coabitam, especialmente se se tratarem de fundos rochosos de estrutura forte onde as espécies se misturam na procura de abrigo, embora seja raro encontrar as duas espécies a ocupar os mesmos buracos.

A época de pesca

Das duas espécies, o sargo veado é a mais sedentária, embora efectue pequenas deslocações locais e procure águas menos profundas na altura da desova. Contudo, nos pesqueiros de eleição desta espécie podemos encontrar exemplares ao longo de todo o ano, havendo sempre a chegada de novos exemplares que tomam o lugar dos que foram capturados.
Esta predilecção por determinados locais e o carácter mais ou menos sedentários desta espécie, determina alguma lentidão  nos movimentos da sua  deslocação de uns locais para outros, o que deve ser tido e conta para não exercermos pressão excessiva sobre um determinado pesqueiro, pois o excesso de exploração pode implicar que o mesmo fique “seco” por período de tempo significativo até que venha a ser reocupado por outros indivíduos da mesma espécie.

No Algarve, a melhor época para a captura desta espécie na pesca embarcada pode ser fixada entre Outubro e Junho.

Já no que respeita ao sargo legítimo, trata-se de uma espécie essencialmente migratória, realizando grandes deslocações, quer em busca de alimento e de abrigo, quer em função do seu ciclo reprodutivo.

Por isso é frequente numa jornada de pesca encontramos um pesqueiro repleto de peixe e poucos dias depois ou, até, no dia seguinte, o pesqueiro estar deserto.

Estas deslocações são frequentemente verificadas pelos caçadores submarinos que constatam rápidos movimentos de aparição e desaparecimento de cardumes de sargos em determinados pesqueiros.

Embora  possam ocorrer esporádicas capturas de sargos legítimos ao logo de todo o ano, a melhor época fixa-se entre Outubro e Abril, altura em que o ciclo reprodutivo faz aproximar um grande número de indivíduos da costa  e em  que se fixam maioritariamente nas já referidas “pedras de terra”.

A Pesca

A pesca embarcada de sargos legítimos e veados procura essencialmente a captura de grandes exemplares, acima de  um quilo de peso, pelo que é fácil de compreender que uma jornada em que se consiga três ou quatro exemplares por pescador já pode ser considerado um bom dia de pesca.

A procura de um bom pesqueiro e uma boa dose de paciência são ingredientes fundamentais para o bom sucesso.

Com efeito, o que se procura não é “encher o balde” de safias ou besugos  mais sim tentar a sorte com um sargo legítimo de dois quilos ou de um veado com quatro quilos.

A escolha dos pesqueiros implica um bom conhecimento da zona de pesca, dos tipos de fundo e alguma persistência na procura destas espécies. Pelo carácter sedentário do sargo veado que acima referimos e pela sua identidade na eleição de habitates, é bom de ver que em pesqueiro que já se tenha capturado esta espécie é muito natural que lá se encontrem outros indivíduos no mesmo local.

Quando não se tem suficiente conhecimento da zona de pesca é sempre preferível contratar uma embarcação de aluguer e manifestar ao Mestre da mesma o tipo de pesca que se pretende fazer. Contudo, para os verdadeiros amantes do mar, um dia passado na procura de bons pesqueiros, mesmo sem capturas, é sempre um dia bem passado.

Os Iscos

Em matéria de iscos é sabido que as preferências de cada um não coincidem com as dos restantes.

Para nós, na pesca embarcada a estas espécies, o isco predominante deve ser sempre a sardinha, iscada aos troços ou em filetes, mas este é seguramente um isco imprescindível.

Na verdade, a sardinha é um isco bastante apreciado pelos sargos que, em regra, pegam muito bem, mas ainda tem a vantagem de ser eventualmente o isco que melhor “engoda” o pesqueiro, já que ao ser constantemente atacado  pelos peixes de menor dimensão, vai formando um rasto de partículas e odores que se torna altamente apelativo para as espécies pretendidas que são atraídas  muitas vezes a grandes distâncias.

Por isso, normalmente, quanto mais tempo se pesca num mesmo pesqueiro com sardinha, maior é o número de capturas que vai sempre crescendo na proporção da eficácia da “engodagem” do pesqueiro, acontecendo, por vezes, esperar-se meia hora ou mais até que entre o primeiro exemplar, o que só acontece depois da referida “engodagem”.

Por outro lado, a sardinha permite iscadas de certo volume, o que também é especialmente atractivo para os grandes exemplares.

O grande inconveniente da utilização da sardinha radica no facto de ser um isco facilmente destruído pelo peixe miúdo e de, frequentemente, atrair ao nosso anzol safios e moreias, espécies indesejáveis no pesqueiro quando o nosso objectivo específico são os sargos.

Conjuntamente com a sardinha, podem ser utilizados de forma alternada outros iscos, em especial, o camarão, a salchicha e o caranguejo e, no caso de não haver muito peixe miúdo no pesqueiro, os ralos. A sardinha a utilizar deve ser o mais fresca possível e deve-se tentar mante-la assim durante toda a jornada com a ajuda de uma geleira e gelo para a conservar em boas condições.


O que se procura não é “encher o balde” de safias ou besugos  mais sim tentar a sorte com um sargo legítimo de dois quilos ou de um veado com quatro quilos.


As montagens

Nesta modalidade de pesca, as montagens são em tudo semelhantes às que se utilizam na pesca embarcada.

Pessoalmente prefiro as montagens de dois estralhos apenas, com comprimentos entre os 50 a 80 cm e efectuadas com a maior discrição possível, ou seja, destorcedores muito pequenos e de grande qualidade, missangas pequenas e transparentes, etc, e quer na madre da montagem quer nos estralhos a indispensável linha de fluorocarbono, especialmente atendendo a que se pesca a pequenas profundidades e, normalmente, com águas claras, em que o peixe tudo detecta e estranha, principalmente quando se trata de grandes exemplares destas espécies.

Os anzóis devem ser igualmente de grande qualidade, com especial atenção para o seu arpão e barbela que deve ser grande, com tamanhos entre o número 1 e o 2/0.

Para quem prefira, os estralhos podem ser montados em destorcedores com clip que permitam por e tirar rapidamente o estralho através de uma laçada na sua extremidade, de forma a iscar a sardinha com as agulhas próprias para esse efeito, apresentando assim uma iscada muito mais natural e perfeita. Resta pegar nas “armas e bagagens” e procurar estas espécies, pois a sua época vai iniciar-se.

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