Pargos e Corvinas no Algarve

TEXTO e FOTOS: Gibelino Encarnação

Introdução

Não vamos aqui dissertar sobre a descrição destas espécies, suas características morfológicas e ecologia, porque para além de se poder tornar enfadonho, são genericamente do conhecimento comum a todos os pescadores de mar, pelo que, no seguimento desta prosa apenas se fará referência a alguns aspectos que reputamos interessantes para a sua pesca.


Tamanhos

Na verdade, não há pescador com algum tempo nestas andanças que não pense nos grandes exemplares destas espécies que normalmente parecem tão distantes e difíceis de pôr ao alcance dos nossos anzóis. E, quando se fala de grandes exemplares, referimo-nos a pargos com pesos superiores a cinco quilos e a corvinas com pesos superiores aos dez ou doze quilos.

Com efeito, na pesca de fundo embarcada é frequente a captura de pargos com pesos até dois quilos, vulgarmente apelidados de parguetes, bem como de corvinas de pequeno porte, entre os dois e os quatro quilos, que são frequentes a montante dos estuários dos grandes rios e nas suas desembocaduras e que em muitos pontos do país são chamadas de rabetas.

Mais que não seja, de tempos a tempos, sempre se houve falar de alguma captura esporádica que atribuímos a um confrade que normalmente é reputado de grande sortudo, sem pensarmos que a pesca específica destes grandes exemplares está ao alcance de todos e que para tanto basta providenciar o material adequado, procurar os locais de querença e ter uma boa dose de paciência que muitas vezes é largamente compensada.

Os locais de captura no Algarve

Em mar aberto, os habitats dos pargos e corvinas cruzam-se muitas vezes, pelo que é frequente acontecerem capturas destas duas espécies no mesmo pesqueiro numa mesma jornada ou capturas alternadas em jornadas sucessivas num mesmo local.

De facto, na época do ano compreendida entre Maio/Junho e Setembro, ambas as espécies apreciam fundos baixos, de pouca água, compreendidos, entre os quinze e os quarenta metros, desde que disponham de estruturas altas, nomeadamente, pedras fortes (pedras altas e irregulares, com buracos de grande dimensão) ou grandes pedras ilhadas submersas, rodeadas de areia, lodo e cascalho, barcos afundados ou quaisquer outras estruturas de certa dimensão que se localizem no meio do extenso areal submarino.

Na verdade, nas zonas de querença destas espécies, qualquer grande estrutura submersa pode albergar exemplares de grande tamanho, sendo contudo necessário procurar conhecer os seus locais de passagem e permanência, de forma a optimizar as capturas.

Com efeito, a aproximação destas espécies à nossa costa resulta de movimentos migratórios mais ou menos amplos com vista à sua reprodução e a sua fixação nas várias zonas depende fundamentalmente da proximidade dos locais propícios à desova (que no caso das corvinas, incide especialmente nas localizações próximas aos estuários), da existência de estruturas submersas que beneficiem o abrigo e da quantidade de alimento disponível. Reunidas as condições de um bom local de pesca, é seguro que com alguma persistência irão aparecer as capturas de grandes exemplares.

Para os mais iniciados nestas lides, há que prospectar várias zonas, munidos de uma boa sonda e GPS, tentando ganhar alguns conselhos de pescadores com maior experiência e até de pescadores profissionais com que se possa ter contacto. Em alternativa, é sempre possível contratar os serviços de embarcações de pesca de aluguer, cujos mestres, conhecedores como são dos pesqueiros da sua zona, facilmente colocam os clientes em locais propícios para esta pesca, desde que se lhes indique o que se pretende.

Em mar aberto, os habitats dos pargos e corvinas cruzam-se muitas vezes, pelo que é frequente acontecerem capturas destas duas espécies no mesmo pesqueiro numa mesma jornada.

Os materiais

Este tipo de pesca não difere muito da normal pesca de fundo, devendo-se apenas optar por material mais resistente em virtude do peso e capacidade de combate dos exemplares que procuramos capturar.

Para o efeito, deverá escolher-se canas com uma potência mínima de 12 libras e um carreto (de bobine fixa ou móvel) que tenha já provas dadas da sua fiabilidade e capacidade de trabalho, em especial no que respeita ao sistema de embraiagem e que possa armazenar pelo menos 250 m de linha. As linhas a utilizar terão que ser de grande qualidade em virtude do esforço a que vão ser submetidas, sendo que a nossa preferência recaí sobre os monofilamentos que, em função da sua elasticidade, permitem um maior amortecimento das cabeçadas dos peixes e, por isso, também salvam algumas das asneiras por vezes cometidas ao longo do combate e que os multifilamentos normalmente não perdoam. Em regra, um diâmetro de 0, 40 mm ou uma linha que admita cargas de 30 libras será suficiente para esta pesca, com excepção das situações em que existam fortes obstáculos no fundo em que se poderá optar por diâmetros superiores.

A opção ou não por carretos de bobine móvel dependerá essencialmente das preferências pessoais de cada um, sendo certo que, neste caso, carretos na ordem das 20/30 libras serão suficientes. Pessoalmente, prefiro os carretos de bobine fixa, necessariamente de grande qualidade e cujas marcas e modelos são sobejamente conhecidos, já que dão maior emotividade aos lances.Os anzóis devem ser igualmente de qualidade superior, indo a nossa preferência para o tamanho 6/0 (embora esta medida possa variar significativamente em cada fabricante).


Os iscos

Neste tipo de pesca que estamos a tratar, por ser especialmente selectiva, em regra apenas são utilizados iscos vivos. De resto, os grandes exemplares que são alvo desta modalidade raras vezes se interessam por iscos mortos, já que se tratam de grandes predadores, muito habituados a capturar o seu próprio alimento na acção predatória que desenvolvem.

Os iscos normalmente mais utilizados são a cavala, o choco, a lula e os caranguejos, especialmente o pilado e o de duas cascas, também conhecido por caranguejo mole.

Em especial, dada a maior facilidade de captura e de os conservar vivos na embarcação durante a jornada de pesca, bem como em virtude da sua grande resistência e de se manterem vivos por grandes períodos depois de iscados, os mais adoptados são a cavala e o choco vivos, sendo que este último, a par da lula viva, não raras vezes é irresistível para os grandes pargos e corvinas, embora também peguem bem na cavala e até haja dias em que só pegam nesta isca.

Estes iscos devem ser sempre iscados com dois anzóis colocados no estralho em tandem, a cerca de 15 a 20 cm um do outro, sendo que, no choco, o anzol posterior é cravado na ponta do manto oposta à cabeça e o anzol anterior (colocado na ponta do estralho) é cravado no sifão (tubo com que o choco expele a água) que se situa na parte de baixo junto à inserção da cabeça, sendo que esta forma de iscar não fere demasiado o choco e permite a sua total movimentação, ganhando eficácia no ferrar.

A cavala deve ser iscada com o anzol posterior colocado no lábio superior ou junto à barbatana dorsal e o anzol anterior junto à barbatana anal, beneficiando assim a liberdade de movimentos e a eficácia da ferragem.

A técnica de pesca

A montagem deverá ser a mais simples e discreta possível, já que nos grandes exemplares são em regra muito desconfiados (por isso é que chegam a velhos).

A linha madre do carreto deverá ser ligada a um destorcedor duplo (do tipo em que um está inserido no outro e gira à sua volta) que seja bastante resistente, isto é, para cargas de 30 ou mais quilos. Numa das saídas do destorcedor será montado o estralho único dos anzóis, com cerca de uma braça e que deverá ser de linha de fluorocarbono a rondar o diâmetro de 0, 50 mm. Na outra saída do destorcedor será fixado um estralho, também de fluorocarbono, com um diâmetro de 0, 25 ou 0, 30 mm onde será colocada a chumbada e que servirá de fusível ou fiel com o objectivo de se partir facilmente caso esta fique presa na pedra ou outro obstáculo (em especial, os pargos logo que se sentem presos tendem a correr junto ao fundo, o que inevitavelmente resulta na prisão da chumbada, pelo que a falta de fusível pode resultar na perda da captura).

As chumbadas a empregar devem ser discretas e variar entre as 200g (para iscar choco) e as 400g (para iscar cavalas e evitar que estas arrastem a chumbada causando enleios com as outras linhas.

O comprimento da linha que sujeita a chumbada pode variar com as preferências de cada um, mas deve-se atender à distância a que o peixe se encontra do fundo que é visualizada na sonda, pois o seu maior ou menor comprimento coloca o isco mais próximo ou mais distante do fundo.



Conclusão

Por último, resta salientar que, neste tipo de pesca, a paciência e persistência traduzem-se sempre em bons resultados e que a emoção de capturar uma corvina de vinte quilos ou um pargo de oito quilos justifica o esforço empreendido. Não se trata de uma pesca de quantidade, mas sim de qualidade, que se traduz em muitas grades mas também em momentos e lances inesquecíveis.

Na verdade, ninguém se lembra desta ou daquela safia ou choupa que capturou num determinado dia de entre tantas que entraram no balde, mas as grandes corvinas e pargos têm, cada um por si, a sua história própria, um momento singular na nossa memória e lugar especial na nossa imaginação.    

Por isso, todos devemos ter a consciência de devolver à água os pequenos exemplares destas espécies, mais que não seja, numa formulação egoística, de esperar poder vir a recapturá-los já com grande tamanho.

É preciso não esquecer que algumas espécies de pargos que povoam as nossas águas chegam a atingir pesos superiores aos 20 quilos e que o maior exemplar de corvina já capturado tinha só 103 quilos, sendo actualmente ainda frequentes os exemplares com pesos entre os 40 e 60 quilos.E com isto apenas posso desejar boas pescarias, com poucos mas grandes peixes.

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