O Anzol




Texto: Filipe Cintra

Fotos: Autor e Arquivo

O anzol é sem duvida alguma o melhor amigo do pescador. Trata-se do objecto, na minha humilde opinião, mais importante num dia de pesca, seja de lazer ou competição. È essencialmente à sua acção que capturamos ou perdemos “aquele” exemplar.

Existem milhares de anzóis, com variados formatos, variadas cores e até materiais, sendo que a sua escolha depende se variados factores. É certo que nos habituamos a pescar quase sempre com os mesmos anzóis e após escolhidos, o único tempo que despendemos para eles são apenas na altura de os empatar à linha e/ou de os iscar. Mas o anzol merece muito mais do que isso. Merece ser pensado. Não existem bons nem maus anzóis, existem sim anzóis que se adequam mais a este ou aquele tipo de pesca, a este ou aquele peixe.

Planear com antecedência

Iniciemos então a sua escolha. Para isso, precisamos de saber como são constituídos, pois tudo é importante. O material que é constituído, o tamanho, a espessura, a patilha, a haste, o ângulo de abertura, a barbela e a ponta são as características mais importantes e consoante à espécie – alvo, assim deveremos escolher um anzol com as características mais adequadas.
Na pesca ao fundo em embarcação fundeada, as espécies são imensamente variadas e o melhor anzol para uma espécie não é com certeza o melhor para outra. Assim, teremos de pescar com um anzol polivalente.
Antes de escolher os anzóis a usar numa qualquer jornada, há que saber fazer uma análise pormenorizada, em que entram factores como: Que iscos vou usar? Que peixes penso apanhar? Que linhas vou usar? A que profundidades? Entre muitos outros que vão aparecendo durante a própria jornada.
Após experimentar vários anzóis das mais variadas marcas e formatos, apresento-lhe as minhas conclusões.

O material

O anzol deverá ser feito num material forte mas que apresente alguma elasticidade de modo a que nem dobre/abra nem parta com exemplares de maior porte. Neste aspecto entra também a decisão no que toca à espessura do mesmo. Há que ter muita atenção, pois todos sabemos que quanto mais fino for o anzol mais fácil se torna a ferragem do peixe, mas também que, se um anzol for fino demais, mais facilmente chega à rotura.

Uma ponta extremamente afiada é sempre de ter em conta, mas atenção que deverá também ser forte, para que se mantenha nas mesmas condições após vários lances. Muitas vezes olhamos para certos anzóis com pontas que mais parecem agulhas mas que depois, em acção de pesca se tornam dispensáveis, pois após capturarmos três ou quatro exemplares, começa a ficar arredondado ou até mesmo ligeiramente dobrado.
A barbela deverá também ela ser escolhida tendo em atenção as mesmas características que a ponta do anzol.

Abertura

O ângulo de abertura não deverá ser exagerado, ou seja, nem demasiado aberto nem demasiado fechado. Se, por um lado, com um ângulo bastante aberto é mais fácil ferrar o peixe, por outro também é mais fácil para o peixe desferrar-se. Ao invés, um ângulo muito fechado torna mais difícil a ferragem mas, depois, o peixe terá muito menos hipóteses de ir embora. Uma regra que pessoalmente uso (excepto em anzóis de haste longa) é muito simples: o ângulo de abertura deverá ser idêntico a mais ou menos metade da haste, ou seja: a distância do bico à haste deverá ser igual a metade do comprimento da mesma.

A haste anteriormente falada pode ser curta, média ou longa. Muitas opiniões tenho ouvido sobre este pormenor do anzol, mas nunca me conseguiram convencer a mudar. A minha escolha recai em hastes médias pelas seguintes razões: se a haste mais curta facilita o embuchar do peixe (situação desagradável para quem, por exemplo, faz pesca de competição, em que todos os segundos são valiosos), a haste mais comprida dificulta esse embuchar; mas pior mesmo é a apresentação das iscadas. Num anzol de haste comprida, a iscada de anelídeos é até favorável, mas o mesmo não acontece com o outro tipo de isco. Aí ficamos com iscadas compridas, que não terão, na minha opinião, a melhor apresentação aos olhos de uma qualquer presa.

A patilha

Quanto à patilha, existem essencialmente dois géneros, em olhal ou martelada. Verdade seja dita que uma patilha em olhal permite a execução de um maior numero de nós, além de possibilitar uma maior rapidez no empate. Mas também é verdade que, na hora de iscar, leva desvantagem em relação à haste martelada. Existem até vários iscos que, ao serem iscados, vão passando para o fio para depois voltarem ao anzol, todo este processo é dificultado com a patilha em olhal.
Existem ainda anzóis que têm na haste uma ou mais barbelas. Estas têm sobretudo o intuito de segurar as iscadas. Pessoalmente não gosto, apenas pela simples razão de que ao estaremos a fazer cortes na haste estaremos a enfraquecê-la. Mas este ponto é bastante discutível.

As espécies

A exemplo, deixo alguns anzóis que tenho usado, tanto em lazer como competição. Entre eles podemos ver, entre outros, o mais que famoso modelo Chinu, que quase todas as marcas possuem, um anzol polivalente usado em quase todas as modalidades mas que, para mim, tem um defeito, a espessura exagerada.
Para a pesca de competição saliento dois anzóis, pois têm sido fiéis amigos: o Sasame Yamane nº 2 e 3 e o Hiro Maruseigo do nº1 ao nº3. Enquanto o primeiro é um anzol infalível para o peixe mais miúdo, leia-se safias, choupas, serranos, etc. (perdendo apenas a sua eficácia em peixes de boca mais frágil, como por exemplo o carapau), o segundo, apesar de ser também um anzol excelente para o peixe menor, é em peixes como a bica, o pargo ou sargos veados que mostra toda a sua valia com um bico muito afiado, uma configuração excelente e uma rigidez impressionante.

Conclusão

Em suma, a minha preferência para os anzóis a usar na pesca (ligeira) ao fundo em embarcação fundeada reduz-se a: bico extremamente afiado, barbela durável, ângulo de abertura q.b., haste média e em termos de espessura… e tudo depende do peixe que estamos a tentar pescar.
Muitos de nós compramos anzóis só porque aquele amigo que é um grande pescador também os usa, ou porque em determinado dia o homem do lado tinha-os e dizia que eram infalíveis, aí cometemos o mesmo erro de sempre, não estamos a pensar na nossa própria pesca. Nada como uma escolha bem pensada e baseada em critérios que nós próprios determinamos, pois é no anzol que começa toda a acção de pesca.

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